REMÉDIOS PARA AS PLANTAS




       Defensivos agrícolas, agroquímicos e agrotóxicos são alguns dos nomes atribuídos aos produtos usados na agricultura para defender as plantas de ervas daninhas, fungos e insetos. O princípio é o mesmo da medicina: quando a pessoa não está bem, vai ao médico que receita um medicamento para aumentar a resistência e curar a moléstia. No caso das plantas, o médico é o engenheiro agrônomo e o remédio são os agroquímicos.

       Na agricultura moderna, a biotecnologia, os fertilizantes, defensivos agrícolas e maquinários são componentes essenciais para uma boa produção. “Sem essas tecnologias, as perdas na lavoura seriam entre 40% e 60% dependendo da cultura”, diz Gerhard Bohne, diretor de operações de negócios no Brasil da Bayer Cropscience.
        O aparecimento da ferrugem asiática na safra 2000/2001 é um exemplo emblemático. A doença é causada por um fungo, ataca principalmente a cultura da soja e pode acarretar perdas de 80% da produção. “Se não fossem os fungicidas, o Brasil não teria os mais de 23 milhões de hectares de soja que tem hoje”, diz Gerhard.
        “A população está crescendo, no mundo são 6,5 bilhões de pessoas. É ilusão pensar que se pode alimentar a todos sem tecnologia”, acrescenta Gerhard. A indústria investe entre US$ 200 milhões e US$ 300 milhões em pesquisas para que um novo produto chegue ao mercado.
       O processo de desenvolvimento leva cerca de dez anos e o registro entre três e cinco anos. “A legislação é super rigorosa. Para poder ser comercializado, o agroquímico precisa ser registrado no Ministério da Agricultura, Ministério da Saúde, por meio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e no Ministério do Meio Ambiente, via Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama)”, diz Eduardo Daher, diretor executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef).

Controvérsias

       Mesmo assim, os defensivos agrícolas são estigmatizados como tóxicos. “O que faz o veneno é a dose não é o princípio ativo”, diz Daher. “É como tylenol: na quantidade certa cura dor de cabeça, mas a superdosagem pode matar”, acrescenta. Ainda hoje há registros de intoxicação por agroquímicos em função do mau uso dos produtos.
     “Tem trabalhadores rurais que não leem o rótulo, alguns não usam os equipamentos de proteção individual (EPIs), outros não respeitam o tempo de carência até a colheita”, diz Gerhard. Não por acaso, nos últimos cinco anos, a indústria investiu nada menos que R$ 10,8 milhões em projetos de educação e treinamento, capacitando cerca de oito milhões de pessoas.
      “Por lei, quem deveria fazer isso é o Governo Federal, mas o Collor nos anos 90 acabou com a Embrater, a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural”, diz Daher. O Brasil constantemente é colocado como número um no ranking dos países que mais usam defensivos. Mas essa posição só leva em conta os números absolutos, ou seja, o total de produto comercializado. “Dá impressão que o Brasil bebe defensivos, mas eles esquecem que, ao contrário de EUA e União Europeia, temos duas safras. Além disso, o clima tropical é muito mais suscetível a pragas”, diz Daher.
        No entanto, um estudo da consultoria alemã Klefflemann coloca o Brasil em sétimo lugar, quando se considera o valor em dólares investido em agroquímicos por tonelada de produção. Com base nesse critério, a classificação fica assim: Argentina, União Europeia, China, França, Rússia, Japão, Brasil e Estados Unidos

Programas

       As indústrias desenvolvem uma série de projetos voltados à educação e sustentabilidade. A Bayer, por exemplo, conta com o programa “Mais Qualidade” que engloba 570 produtores de abacaxi, melão e uva de mesa. O produtor é orientado quanto ao uso correto e seguro de produtos fitossanitários e sobre como conduzir a lavoura para garantir uma fruta mais doce.
       Já o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (Inpev) faz a logística reversa, um trabalho de recolhimento das embalagens usadas de defensivos, que já recebeu visitas de deputados canadenses querendo copiar a iniciativa.

Orgânicos X Convencional

        Não há dúvidas, se a produtividade na agricultura orgânica – aquela que não faz uso de agroquímicos – fosse a mesma do sistema convencional, todos produtores optariam pela segunda, que não tem gastos com defensivos.
       Mas há poucas pesquisas nessa área, o que torna a agricultura orgânica viável apenas para pequenos cultivos, como o de hortaliças. “Não é possível produzir grãos pelo sistema orgânico. A cesta básica seria três vezes mais cara e ainda faltaria comida”, diz Daher.

FONTE: Rede Agro
Matérias assinadas ou com indicacação de fontes são de responsabilidades dos autores, não expressando opiniões ou ideias do Brasil Agrícola.