“O agronegócio
pode transformar o Brasil em uma potência. E o medo do mundo é que o país
desperte para isso. O mundo sabe que poderemos dominá-lo pela boca. O Brasil
tem tudo para conseguir isso, basta ser inteligente”, diz o presidente da
Aprosoja, Pedro Nardes.
Segundo ele,
há 20 anos se falava que iria faltar alimento no mundo. E esse momento chegou.
Isso porque as expectativas são de preços favoráveis pelos próximos dois anos
em função da seca que os Estados Unidos enfrentam. Essa condição afeta
diretamente os estoques mundiais que já estavam baixos e, com essa frustração
de safra americana vão permanecer, pelo menos, nos próximos dois anos muito
baixos até que sejam recuperados.
“Depois dos
Estados Unidos enfrentarem a seca, vamos vivenciar uma nova era. A era da falta
de alimentos no mundo”, destaca. Isso porque a população tem aumentado e os
espaços destinados a produção são pequenos. Só resta área ociosa na América
Latina e na África. Os Estados Unidos produz 100% de sua área assim como a
Europa. A China não tem mais onde aumentar sua área de produção. E quem será
beneficiado com essa situação, se as leis no Brasil não atrapalharem, será a
agricultura brasileira.
Hoje o país
ocupa apenas 6,7% de seu território para a produção de grãos. Há 63% de matas
nativas e o produtor, conforme Nardes, tem preservado, pois sabe a importância
da preservação do meio ambiente para a continuidade de sua atividade. Todo
agronegócio em conjunto, ocupa em torno de 27% do território nacional,
incluindo pecuária, agricultura, todas as atividades. “O grão ocupa somente
6,7%. Temos muito o que expandir e sem derrubar uma árvore. Se dobrarmos nossa
área, chegamos a 15% e conseguiríamos dobrar a produção nacional. O Brasil tem
muito espaço, só basta saber usar com inteligência, com projetos bem feitos e o
governo ajudando o produtor brasileiro.
Principalmente
no interior do Rio Grande do Sul, que estamos vendo a permanência somente das
pessoas de idade e os jovens indo procurar um novo mercado de trabalho.
Acredito que com essa seca nos EUA, vai mudar a visão da história e a visão do
governo, especialmente dos governos perante nossa agricultura”, explica.
O agronegócio
significa 40% do PIB brasileiro, apesar da pouca área destinada à atividade.
“Falam que somos o celeiro do mundo, mas na última safra obtivemos 170 milhões
de toneladas contra 580 milhões de t produzidas pela China e 560 milhões de t
pelos EUA. Não produzimos nem mesmo 1/3 desse volume e nos chamam de celeiro do
mundo”, afirma.
Para o
presidente da Aprosoja, é preciso considerar ainda que o país não necessita
tanto de alimento como o resto do mundo, já que são 190 milhões de habitantes
comparado com a China que é 1,3 bilhões de pessoas. “Não necessitamos tanto de
alimento quanto eles precisam, mas temos condições de produzir e exportar
mais”, declara.
Prevenção de desastres
Com relação a
seca que a região Sul do Brasil enfrentou na última safra de verão, o
presidente da Aprosoja comenta que os reflexos poderão ser sentidos pelos
próximos cinco anos, até que o produtor se recupere das perdas. Isso porque, as
comodities enfrentaram alta dos preços e, o custo de produção também ficou mais
caro. “Sem haver uma justificativa, o preço dos insumos teve alta entre 30% e
40%. No ano passado trabalhávamos com cerca de US$ 900 a tonelada e agora está
em torno de US$ 1.300 o mesmo fertilizante. Isso é um absurdo. E impacta na
frustração do produtor”, diz.
Segundo
Nardes, alguns produtores não terão crédito na próxima safra porque não
conseguiram liquidar as dívidas. O financiamento 2011/2012 foi prorrogado, mas
existem prestações antigas, de equipamentos por exemplo e elas estão sendo
executadas. Na última semana, a Aprosoja conversou sobre o tema com o ministro
da Agricultura, Mendes Ribeiro.
Para Nardes, o
Governo Federal precisaria criar um fundo de catástrofe, porque no Brasil, já
que não existe uma política agrícola definida programada para quatro a cinco
anos, sendo todos os anos lançado um plano safra diferente, o fundo de
catástrofe que o próprio agricultor seria o contribuinte, auxiliaria até mesmo
para o seguro da lavoura. O fundo é uma das medidas que a Aprosoja tem
discutido muito. Tanto no que tange a seca como a chuva em excesso. “A natureza
é uma indústria céu aberto e necessita de uma proteção diferenciada”, salienta.
Ele
exemplifica ainda que na atual seca que os produtores americanos estão
enfrentando, o governo está subsidiando para os que estão tendo perdas,
condição que não ocorre no Brasil. “Quando ocorre uma seca como a vivenciada
neste verão no Estado, o produtor fica totalmente desprotegido. E tendo um
fundo de catástrofe seria muito importante para o produtor e todos setores
seriam beneficiados. A agricultura brasileira como um todo seria muito bem
protegida”, conclui.
FONTE: Diário da Manhã