Pesquisa realizada pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), instituições participantes do Consórcio Pesquisa Café, identificou um gene do café arábica que quando transferido para outra planta – Arabidopsis thaliana – tornou esta altamente tolerante à seca. O gene agora está sendo testado em outras plantas de interesse agronômico, como soja, milho, trigo, cana de açúcar, arroz e algodão. O Consórcio tem seu programa de pesquisa coordenado pela Embrapa Café, Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
– A
expectativa, como ocorreu com os resultados obtidos com uma planta modelo, é
que o gene confira tolerância prolongada à estiagem também para essas outras
culturas. A transgenia tem o potencial de transferir genes entre espécies
diferentes e expressar corretamente as características conferidas pelo gene,
neste caso, mantendo a produtividade mesmo na ausência de condições favoráveis,
como a escassez de água – diz o pesquisador Eduardo Romano, da Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia.
O otimismo com
relação ao uso de genes modificados em todas as variedades testadas deverá ser comprovado
com os resultados da pesquisa no campo, previsto para o próximo ano.
– Se tudo
ocorrer conforme esperado, em cinco anos a agricultura brasileira terá mais um
aliado para superar problemas climáticos, como a temperatura elevada e o
déficit hídrico, que ameaçam a produtividade no campo – adianta o pesquisador.
A expressão do
gene de resistência a seca está em observação em laboratório. Após
o nascimento das primeiras plantas transgênicas, as sementes serão novamente
testadas em laboratório para posteriormente, a partir de uma seleção das
melhores amostras, serem testadas em campo.
Além da
expectativa de aumento ou manutenção dos níveis de produção econômica e de
desenvolvimento social, os pesquisadores envolvidos no estudo acreditam que com
o cultivo de plantas resistentes à seca será possível reduzir os impactos
ambientais provocados pela atividade, uma vez que abre perspectivas de menor
consumo de água.
Pesquisadores
compararam variedades de café tolerantes e suscetíveis à seca e identificaram um
gene diferencial. Esse gene foi isolado e transferido por ferramentas de
engenharia genética para plantas de outra espécie – Arabidopsis thaliana. As
plantas de arabidopsis que receberam o gene de café foram submetidas a um
regime de 40 dias sem água e permaneceram saudáveis enquanto plantas que não
receberam o gene morreram após 15 dias. A patente do gene foi registrada no
Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
Origem do gene resistente a seca
É consequência
do trabalho, realizado em parceria por instituições participantes do Consórcio
Pesquisa Café e pela Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo – Fapesp, de
mapeamento de 200 mil sequências de DNA, dos quais mais de 30 mil genes foram
identificados como responsáveis por diversos mecanismos fisiológicos de
crescimento e desenvolvimento do cafeeiro. Desse manancial genético, saiu o
gene identificado e testado pelos pesquisadores, denominado CAHB12. A
decifração do código genético do café, o genoma café, foi pioneirismo
brasileiro e colocou o Brasil na vanguarda das pesquisas em café.
Esse banco de
dados, o maior do mundo para o grão, está à disposição das dezenas de
instituições que compõem o Consórcio Pesquisa Café, distribuídas em 14 estados
brasileiros. As informações estão guardadas pela Rede de Genomas Agronômicos e
Ambientais da Fapesp e pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.
Benefícios do genoma café
O domínio do
código genético tem tornado possível o desenvolvimento de variedades mais
produtivas, tolerantes a variações climát icas (como seca e geada) e
resistentes ao ataque de pragas e doenças, com reflexos diretos no custo de
produção, na proteção ambiental e no incremento de 20 a 30% na produtividade das
lavouras, em função do menor uso de defensivos agrícolas. Além disso, os dados
gerados pela pesquisa aceleram a obtenção de cultivares de melhor qualidade,
aroma, sabor e propriedades nutracêuticas do grão, agregando qualidade ao
produto e mais satisfação e saúde para o consumidor.
Consórcio Pesquisa Café
Esse arranjo
institucional atua em todos os segmentos da cadeia produtiva, tendo por base a
sustentabilidade, a qualidade, a produtividade, a preservação ambiental, o
desenvolvimento e o incentivo a pequenos e grandes produtores. Hoje reúne mais
de 700 pesquisadores de cerca de 40 instituições, envolvidos em 74 projetos dos
quais fazem parte 355 Planos de ação.
Foi criado por
iniciativa de dez instituições ligadas à pesquisa e ao café: Empresa Baiana de
Desenvolvimento Agrícola (EBDA), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa), Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais - Epamig, Instituto
Agronômico (IAC), Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Instituto Capixaba de
Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (Mapa), Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do
Rio de Janeiro (Pesagro-Rio), Universidade Federal de Lavras (Ufla) e
Universidade Federal de Viçosa (UFV).
FONTE: Ministério da
Agricultura