A deficiente
infraestrutura logística faz com que o agro brasileiro tenha um prejuízo anual
de aproximadamente US$ 4 bilhões. No total, o país, que investe apenas 0,3% do
Produto Interno Bruto (PIB) na área, perde cerca de US$ 80 bilhões. Diante
deste crônico cenário, foi discutido em um evento na capital paulista na
terça-feira (18), pelos dirigentes do setor, produtores, consultores, traders e
executivos da agroindústria os desafios e soluções relacionadas ao transporte,
armazenagem e escoamento da produção agropecuária.
O principal
diagnóstico apresentado foi que enquanto o agro se expande e continua avançando
no Centro-Oeste, especialmente no norte do Mato Grosso, Goiás, sul do Pará, e
em novas fronteiras, como, por exemplo, o Mapitoba (Maranhão, Piauí, Tocantins
e oeste da Bahia), a infraestrutura logística nestas regiões patina, e muito.
“O grande celeiro de grãos hoje fica nestas regiões, mas a maior parcela da
produção ainda é escoada pelo Sul”, disse Rodrigo Arnús Koelle, gerente
nacional de logística da Cargill, um dos participantes do seminário “Caminhos
da Safra”, promovido pela revista “Globo Rural”.
De acordo com
o consultor de logística da CNA, Luiz Antônio Fayet, a produção do “Arco Norte”
que foi escoada pela região Sul passou de 32 milhões de toneladas de grãos em
2009 para 45 milhões de toneladas no ano passado. Citando dados da Anec, Fayet
pontuou que os custos logísticos no Brasil são quatro vezes mais caros do que
os praticados na Argentina e Estados Unidos, dois dos nossos principais
concorrentes.
O presidente da Abag, Luiz Carlos
Corrêa Carvalho (Caio), acentuou a relevância do tema ao ressaltar que “a coisa
é tão séria, que está fazendo com que outros países [sem citar nomes], que até
bem pouco tempo não eram considerados concorrentes, passem a nos ameaçar, em
razão, dos problemas logísticos que temos”. A expectativa, afirmou o dirigente,
é que o pacote de investimentos em infraestrutura logística, anunciado
recentemente pelo governo federal, saia do papel. “Mas aprendi a ser São Tomé
nestes casos.”
Segundo
relatos de Edeon Vaz Pereira, diretor executivo do Movimento Pró-Logística do
Mato Grosso (MT), algumas [importantes] obras estão sendo feitas no estado, a
fim de mudar o eixo do escoamento da produção, destinada à exportação, dos
terminais portuários do Sul (Santos e Paranaguá) para os portos do Norte do
País (Itaqui no Maranhão, Santarém e Miritituba, ambos no Pará, por exemplo).
Entre elas, destacam-se obras nas BRs 163 (Cuiabá-Santarém), 158 (que corta
todo o MT), 242 (que ligará ambas as BRs), a Ferrovia de Integração
Centro-Oeste e a hidrovia Teles-Pires. “Estas obras estão caminhando”, disse
Pereira, destacando também os arranjos que estão sendo feitos para melhorar a
integração entre os diversos modais. “O estado do Mato Grosso que tem hoje a pior
logística do país será outro em quatro, cinco anos”, salientou.
“Deveremos
começar a ter melhorias no escoamento da safra 2013/14”, disse Edeon. No
entanto, ressaltou que problemas relacionados à elaboração de projetos, marcos
regulatórios (que fazem o frete ferroviário ficar mais caro do que o
rodoviário), licenças ambientais e trechos de rodovias que precisam ser
refeitos, acarretam em atrasos e até interrupções das obras. “Decisões
relativas a licenças ambientais são pautadas por ideologia em alguns casos”,
enfatizou Caio, presidente da Abag.
Na opinião de Edeon, outro grave
problema, que não está merecendo a atenção devida, é a armazenagem. “Nossa
capacidade de armazenamento é muito baixa, de apenas 60% da safra.”
Mas para
Fayet, de nada adiantam investimentos em estradas, ferrovias e hidrovias se não
for resolvido o grande gargalo logístico do país que é os portos. “Há um apagão
dos portos, e isso não está sendo atacado pelo governo”, acrescentou que “de um
jeito ou de outro transportamos as cargas até os terminais, mas sem portos não
dá”. Koelle da Cargill endossou ao dizer que “se você trava o porto, trava toda
a cadeia produtiva para trás”.
A ineficiência
da infraestrutura dos terminais portuários foi demonstrada com números
apresentados por Fayet. De acordo com o consultor da CNA, os principais portos
do País, Santos e Paranaguá tinham somados, recentemente, uma fila de 120
navios aguardando para atracar. O prejuízo resultou, com o demurrage (multa
diária de demora) para o importador e exportador pelo fato dos navios estarem
parados cerca de US$ 5 milhões por dia.
Na avaliação
de Fayet, o Brasil precisa também solucionar impasses na legislação que
atravancam o transporte de cabotagem (pelo litoral ou por vias fluviais dentro
do País). Segundo ele, o paradoxo de custos logísticos do país cria situações
como valores de frete idênticos de Paranaguá para Recife e para Xangai (China).
Para o consultor da CNA, uma saída para resolver os problemas relacionados com
os portos são as parcerias público-privadas.
FONTE: Sou Agro/Revista
Agropecuária