DIVERSIFICAÇÃO DO AMBIENTE REDUZ INFESTAÇÃO DE PLANTAS DANINHAS


Sílvia Zoche Borges
Embrapa Agropecuária Oeste

Plantas daninhas de difícil controle, como a buva, têm preocupado cada vez mais produtores rurais de vários estados brasileiros. A buva, que se propaga facilmente pelo ar, pode produzir até cem mil sementes por planta e está entre os principais problemas em áreas de pastagens e de cultivo de soja no Brasil. Em 2005, o biótipo resistente dessa planta daninha foi detectada em São Paulo e no Rio Grande do Sul e começou a se espalhar por outros estados, como Mato Grosso do Sul. A alta infestação também é causada por outros fatores, como a ausência de cobertura do solo, a inexistência de rotação de culturas e de herbicidas.
O pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS), Germani Concenço, trabalha nas áreas de sistemas de produção sustentáveis e manejo integrado de plantas espontâneas, e explica que o manejo de plantas daninhas, especialmente as de difícil controle, deve ser integrado, para diversificar o ambiente e reduzir a infestação. A inserção de tecnologias como consórcio milho-braquiária e Integração Lavoura-Pecuária são exemplos de práticas que reduzem a ocorrência de espécies daninhas.
O cultivo do trigo na safrinha, além do milho consorciado com braquiária, também está entre as alternativas para controle de plantas daninhas, porque além de formar palhada bem distribuída no solo, possui efeito alelopático, ou seja, produzem substâncias que colaboram para reduzir a proliferação das espécies daninhas, inclusive a buva. "Após três a cinco anos do início do manejo correto na área já infestada, a redução do número de sementes no solo será significativa, e a infestação nas safras subsequentes será menor", afirma o pesquisador. Com objetivo de diminuir as dúvidas do produtor rural, Germani Concenço responde a algumas perguntas.

1) Com quais plantas daninhas o produtor deve se preocupar, e quais são as de difícil controle?

As plantas daninhas mais importantes serão aquelas mais adaptadas às práticas de manejo adotadas na área. Assim, na soja se destacam a buva e o capim-amargoso por serem resistentes ao glyphosate, principal herbicida utilizado; se destacam ainda a trapoeraba, corda-de-viola e poaia-branca, por tolerarem maiores doses do mesmo herbicida. Na agricultura familiar, onde o principal método de controle de plantas daninhas é a capina ou o arranquio manual, a guanxuma poderia ser considerada dentre as mais importantes, pois seu caule é muito resistente, sendo difícil de ser eliminada por estes métodos. Em suma, a planta daninha mais importante do sistema de cultivo será aquela que é menos impactada pelas práticas de manejo adotadas pelo produtor.

2) Quais cuidados o produtor deve ter com essas plantas daninhas?

Em primeiro lugar, nunca utilizar somente um método de controle, pois isto selecionará determinadas espécies. O produtor deve sempre integrar o método químico com o manejo cultural e, se o problema ainda não estiver presente, optar pela prevenção. Métodos altamente diversificados, como rotação de culturas, consórcios de cultivos e Integraçao Lavoura-Pecuária (iLP) devem ser preconizados. Cuidados com o manejo químico incluem a rotação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação e a aplicação do herbicida sobre plantas novas, que são mais eficientemente controladas.

3) Quais as condições ideais para prática da dessecação das plantas daninhas?

As plantas daninhas não devem estar sob estresse hídrico. Assim, antes da dessecação para plantio da soja, deve-se esperar uma chuva. Esta chuva fará com que a planta volte a crescer (e transloque melhor os herbicidas), mas também lavará a poeira e calcário ou gesso que podem estar sobre as folhas. A tecnologia de aplicação é essencial, com pontas de pulverização não desgastadas, volume de calda adequado ao tipo de produto (sistêmico ou de contato), e aplicação nas primeiras horas da manhã ou no final da tarde, com umidade do ar superior a 65%, ventos entre 2 e 8 km/h e temperaturas abaixo de 30 graus.

4) Quantos dias antes da semeadura da soja deve ser realizada a dessecação?

O intervalo mínimo entre dessecação e plantio depende da espécie vegetal, do tamanho das plantas, da dose do herbicida e do equipamento que realizará o plantio. Existem espécies, como a Brachiaria ruziziensis, que são mais facilmente controladas pelo herbicida e poucos dias após a aplicação as plantas já estão em senescência; existem outras espécies, como o capim-mombaça, que necessitam tanto de doses maiores de herbicidas como de maior intervalo entre dessecação e plantio. Plantas mais novas são mais suscetíveis a herbicidas; assim, caso a espécie a ser dessecada seja de difícil controle, o técnico responsável poderá decidir pela viabilidade de uma roçada prévia e, após alguns dias, quando as plantas rebrotarem, realizar a dessecação. Quanto a operação de plantio, algumas plantadeiras conseguem cortar melhor a palha enquanto outras podem embuchar no momento do plantio – isto também determinará com que antecedência a área poderá ser dessecada. A decisão pelo momento e modo de dessecação da cobertura antecedendo o plantio da cultura, deve ser tomada no local pelo técnico responsável.

5) Que princípios ativos o produtor deve usar para as práticas de dessecação para o plantio da soja?

Depende das espécies presentes, de seu nível de ocorrência e do estádio de crescimento. Para áreas com ocorrência de buva, uma dessecação deve ser realizada ao redor de 20 dias antes do plantio com glyphosate + 2,4-D ou glyphosate + chlorimuron, que pode ser seguida por uma aplicação sequencial, 7 a 10 dias após, de um dessecante de contato (paraquat, paraquat+diuron, glufosinato de amônio). A decisão, no entanto, deve ser tomada no local pelo técnico responsável, e sempre seguir as recomendações contidas na bula de cada produto.

6) É possível a mistura de herbicidas no tanque?

Alguns grupos de herbicidas são incompatíveis quando misturados com outros herbicidas no tanque do pulverizador, então, somente misturas já testadas devem ser utilizadas. Misturas de tanque não são apoiadas pelos órgãos regulamentadores, por isso devem ser utilizadas misturas comercialmente disponíveis.

7) Como controlar o banco de sementes de plantas daninhas após a dessecação?

Após uma boa operação de dessecação (lavoura iniciada “no limpo”), um produto pré-emergente com ação residual pode ser utilizado em áreas com alta ocorrência de plantas daninhas. A recomendação do herbicida (princípio ativo, dose e momento de aplicação) deve ser feita por técnico habilitado. Existem outras opções, mas deve-se ter cuidado porque outros produtos podem apresentar efeito residual muito longo e causar prejuízos à cultura do milho caso ele seja cultivado na safrinha em sucessão à soja. Para áreas com capim-amargoso resistente ao glyphosate, o herbicida s-metolachlor é um pré-emergente muito eficiente em inibir a emergência desta espécie.

8) Os restos culturais de milho safrinha podem contribuir para o manejo das plantas daninhas?

O milho em cultivo solteiro, embora produza volume significativo de palha, não ocasiona alta supressão de plantas daninhas. Grande parte da massa seca da palhada do milho está concentrada nos colmos, e o reduzido volume de folhas acaba deixando a área com muitos espaços sem cobertura vegetal. Por isso, indica-se sempre o cultivo de milho consorciado com uma forrageira, sendo a mais utilizada a Brachiaria ruziziensis. A palhada sobre o solo reduz a disponibilidade de luz para as sementes em processo de germinação ou plântulas de espécies daninhas, reduzindo sua ocorrência.

9) Que tecnologias o produtor deve adotar para impedir que as plantas daninhas tragam prejuízo ao produtor? Qual o benefício de cada uma delas?

Diversas são as práticas que reduzem a ocorrência de espécies daninhas. A seguir são comentadas as principais:

a) Rotação de culturas – Proporciona a diversificação do ambiente, reduzindo a seleção das espécies e diminuindo a ocorrência daquelas mais problemáticas, ou de mais difícil controle;
b) Rotação de princípios ativos de herbicidas – Reduz a pressão de seleção, diminuindo as chances do surgimento de um tipo de planta (biotipo) resistente ao principal herbicida do sistema. Na rotação de herbicidas, deve-se lembrar de utilizar princípios ativos com diferentes mecanismos de ação. Um técnico habilitado deverá ser consultado. A Embrapa Agropecuária Oeste também pode informar se dois princípios ativos possuem ou não o mesmo mecanismo de ação;
c) Integração Lavoura-Pecuária – Quando viável, é um dos sistemas mais eficientes na supressão de plantas daninhas, devido à grande variação no manejo nos diferentes sistemas utilizados na área. Raramente o produtor que utilizar este sistema – e manejá-lo corretamente – terá problemas com alta infestação de plantas daninhas;
d) Cobertura do solo na entressafra – Altamente eficiente em suprimir diversas espécies daninhas, incluindo buva e capim-amargoso. O importante é não deixar o solo descoberto na entressafra, cultivando-se uma das diversas espécies após a cultura comercial, ou junto dela no caso de consórcios de cultivos. O trigo se destaca devido ao seu potencial supressor de espécies daninhas, juntamente com o consórcio milho-braquiária;
e) Consórcios de cultivos – O principal sistema de consórcios na região Sul do Estado de Mato Grosso do Sul é milho + braquiária na safrinha, sedimentado pela Embrapa Agropecuária Oeste. Após a colheita do milho, a braquiária cresce e protege o solo, evitando o acesso das plantas daninhas à luz, até o cultivo subsequente. A equipe da Embrapa está preparada para fornecer as informações necessárias à instalação deste consórcio na safrinha;
f) Época de plantio e arranjo da cultura – A cultura deve ser plantada na época recomendada pelo zoneamento agrícola da região, pois será quando ela germinará mais rapidamente, fechando o dossel e suprimindo o crescimento das plantas daninhas. O arranjo das plantas – resultante do espaçamento entrelinhas e densidade de plantas – fará com que o dossel da cultura feche rapidamente.

10) É possível recuperar uma área infestada por plantas daninhas? Como?

Com o manejo correto – preventivo, cultural, químico e em algumas situações também mecânico, o banco de sementes de plantas daninhas será gradualmente reduzido. Entre três a cinco anos após o início do manejo correto na área, a redução do número de sementes no solo já é bem reduzido, e a infestação nas safras subsequentes será menor. Em suma, recupera-se uma área altamente infestada por plantas daninhas pela diversificação do ambiente.

FONTE: Portal Dia de Campo

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