Os
nove vetos presidenciais ao texto do novo Código Florestal foram publicados na
edição desta quinta, dia 18, do Diário Oficial da União. O principal deles
retira do texto a flexibilização para a recuperação de Áreas de Preservação
Permanente (APPs) nas margens de rios.
A
chamada regra da “escadinha”, que prevê obrigações de recuperação maiores para
grandes proprietários rurais, foi devolvida à lei por decreto presidencial,
publicado também na edição desta quinta-feira no Diário Oficial. Os produtores
rurais terão que recompor entre cinco e cem metros de vegetação nativa das APPs
nas margens dos rios, dependendo do tamanho da propriedade e da largura dos
rios que cortam os imóveis rurais.
O
decreto publicado nesta quinta também traz normas gerais aos Programas de
Regularização Ambiental (PRA) e define como será o funcionamento do Cadastro
Ambiental Rural (CAR), que suprem possíveis vácuos na lei deixados pelos vetos.
Pelo texto, o Cadastro Ambiental Rural é um registro eletrônico de abrangência
nacional, que servirá para compor a base de dados do governo para “controle,
monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento”.
Entre
os dados que o integrarão estão informações do proprietário ou responsável pelo
imóvel rural, planta do perímetro do imóvel, da localização dos remanescentes
de vegetação nativa, das APPs, das Áreas de Uso Restrito, das áreas
consolidadas e da localização das Reservas Legais.
No
decreto, o governo define ainda que a recomposição das áreas de Reserva Legal
poderá ser realizada mediante o plantio intercalado de espécies nativas e
exóticas, observados alguns parâmetros como: o plantio de espécies exóticas
deverá ser combinado com espécies nativas de ocorrência regional; a área
recomposta com espécies exóticas não poderá exceder a 50% da área total a ser
recuperada.
Nessa
quarta, dia 17, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, disse que os
vetos foram pontuais, apenas para recuperar os princípios que estavam na
proposta original do governo, que significam “não anistiar, não estimular
desmatamentos ilegais e assegurar a justiça social, a inclusão social no campo
em torno dos direitos dos pequenos agricultores”.
ENTENDA
O QUE FOI VETADO
A
presidente vetou o Artigo 83 e fez vetos parciais nos artigos 4º, 15º, 35º,
59º, 61º-A e 61º-B. A advogada Samanta Pineda comenta cada um dos vetos em
destaque.
Art.
83. Revogam-se as Leis nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, 7.754, de 14 de
abril de 1989, e suas alterações posteriores; a Medida Provisória nº 2.166-67,
de 24 de agosto de 2001; e o item 22 do inciso II do art. 167 da Lei nº 6.015,
de 31 de dezembro de 1973.
COMENTÁRIO: O importante aqui é a
inclusão pelo Parlamento na lista das revogações, do item da Lei de Registros
Públicos (6.015) que permite ao cartório averbar a reserva legal. Na verdade a
Lei já fala expressamente que a inscrição no CAR desobriga a averbação, sendo
assim penso que a matéria foi vetada porque em casos de servidão estas terão
ainda que ser averbadas, tanto na matrícula que está cedendo quanto na que está
recebendo a reserva legal. Entendo, portanto que este veto não prejudica a
desnecessidade de averbação da própria reserva mas assegura que as servidões
possam ser averbadas.
Art. 4º
§ 9º Não se considera Área de Preservação Permanente a várzea fora dos limites previstos no inciso I do caput, exceto quando ato do poder público dispuser em contrário nos termos do inciso III do art. 6º.
COMENTÁRIO: O dispositivo vetado não quer dizer que as várzeas serão consideradas APPs, pois ao contar a APP da borda da calha do rio as várzeas fora da metragem de APP está excluída desta proteção. Assim o veto não altera qualquer situação.
I
- o benefício previsto neste artigo não implique a conversão de novas áreas
para o uso alternativo do solo;
§
4º É dispensada da aplicação do inciso I
do caput deste artigo, quando as Áreas de Preservação Permanente conservadas ou
em processo de recuperação, somadas às demais florestas e outras formas de vegetação nativa
existentes em imóvel, ultrapassar:
I
– 80% (oitenta por cento) do imóvel rural localizado em áreas de floresta na
Amazônia Legal; e
II
– 50% (cinquenta por cento) do imóvel rural nas demais situações, observada a
legislação específica.
COMENTÁRIO: A intenção dos parlamentares
foi de seguir uma linha coerente de não inviabilizar qualquer propriedade
rural. Com os percentuais citados no parágrafo tendo sido atingidos, a função
ambiental da propriedade estaria cumprida podendo assim o restante ser
destinado à produção.
Art.
35. O controle da origem da madeira, do carvão e de outros produtos ou
subprodutos florestais incluirá sistema nacional que integre os dados dos
diferentes entes federativos, coordenado, fiscalizado e regulamentado pelo
órgão federal competente do Sisnama.
§
1º - O plantio ou o reflorestamento com espécies florestais nativas, exóticas e
frutíferas independem de autorização
prévia, desde que observadas as limitações e condições previstas nesta Lei, devendo ser informados ao órgão
competente, no prazo de até 1 (um) ano, para fins de controle de origem.
COMENTÁRIO: Na redação original da MP
apenas o reflorestamento com nativas era isento de autorização prévia. Foram
incluídas as exóticas e frutíferas por questões de otimização do aproveitamento
econômico da propriedade. O veto burocratiza o plantio de exóticas e frutíferas
uma vez que pedidos de autorização exigem uma série de documentos e tem um
procedimento moroso nos órgãos ambientais que não tem estrutura para atender a
demanda.
Art.
59. A União, os Estados e o Distrito Federal deverão, no prazo de 1 (um) ano,
contado a partir da data da publicação desta Lei, prorrogável por uma única
vez, por igual período, por ato do Chefe do Poder Executivo, implantar
Programas de Regularização Ambiental - PRAs de posses e propriedades rurais,
com o objetivo de adequá-las aos termos deste Capítulo.
§
6º Após a disponibilização do PRA o
proprietário ou possuidor rural autuado por infrações cometidas antes de 22 de
julho de 2008, relativas à supressão irregular de vegetação em Áreas de Preservação Permanente, de Reserva
Legal e de uso restrito, poderá promover a regularização da situação através da
adesão ao PRA, observado o prazo de 20 (vinte) dias contados da ciência da
autuação.
COMENTÁRIO: O dispositivo estava pouco
claro e nada acrescentava à lei. O veto foi bom para a clareza das regras.
Art.
61-A. Nas Áreas de Preservação Permanente é autorizada, exclusivamente, a
continuidade das atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo
rural em áreas rurais consolidadas até 22 de julho de 2008.
§
4º Para os imóveis rurais com área superior a 4 (quatro) módulos fiscais que
possuam áreas consolidadas em Áreas de
Preservação Permanente ao longo de cursos d’água naturais, será obrigatória a
recomposição das respectivas faixas marginais:
I
– em 15 (quinze) metros, contados da
borda da calha do leito regular, para imóveis com área superior a 4 (quatro) e
de até 15 (quinze) módulos fiscais, nos cursos d’água naturais com até 10 (dez)
metros de largura;
COMENTÁRIO: O veto faz com que todas as
propriedades acima de quatro módulos tenham que recompor, no mínimo, 20 metros
às margens dos cursos d’água retornando a versão original da MP 571.
§
13. A recomposição de que trata este artigo poderá ser feita, isolada ou conjuntamente,
pelos seguintes métodos:
V
– plantio de árvores frutíferas.
COMENTÁRIO: O veto impede o uso de
frutíferas na recuperação de APPs, o que poderia ser uma alternativa de renda
aos que terão que abandonar áreas produtivas para tal recuperação.
§
18. Nos casos de áreas rurais consolidadas em Áreas de Preservação Permanente
ao longo de cursos d’água naturais intermitentes com largura de até 2 (dois)
metros, será admitida a manutenção de atividades agrossilvopastoris, de
ecoturismo ou de turismo rural, sendo obrigatória a recomposição das
respectivas faixas marginais em 5 (cinco) metros, contados da borda da calha do
leito regular, independentemente da área do imóvel rural
COMENTÁRIO: Muitas áreas que tem vários
pequenos córregos formados em épocas de chuvas podem ser inviabilizadas.
Art.
61-B. Aos proprietários e possuidores dos imóveis rurais que, em 22 de julho de
2008, detinham até 10 (dez) módulos fiscais e desenvolviam atividades
agrossilvipastoris nas áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente, é
garantido que a exigência de recomposição, nos termos desta Lei, somadas todas
as Áreas de Preservação Permanente do imóvel, não ultrapassará:
III
- 25% (vinte e cinco por cento) da área total do imóvel, para imóveis rurais
com área superior a 4 (quatro) e de até 10 (dez) módulos fiscais, excetuados
aqueles localizados em áreas de floresta na Amazônia Legal.
COMENTÁRIO: A MP original trouxe travas
de proteção incluindo porcentagens máximas de recuperação para que as
propriedades não fossem inviabilizadas. O parlamento entendeu pertinente dar
também esta proteção às médias propriedades e incluiu o dispositivo acima que
foi vetado pela Presidente. Em muitos casos a média propriedade poderá ficar
com área produtiva menor do que as pequenas já que todas as suas proteções
foram vetadas.
FONTE:
Agência Brasil, Agência Estado e Canal
Rural