Pesquisas
arqueológicas indicam que a cevada é domesticada pelo homem há pelo menos 10
mil anos. Apesar de fazer tanto tempo, essa companheira milenar sempre foi um
mistério - a gente simplesmente não sabia com quem estava andando. Sim, o malte
dela faz um líquido gostoso, mas beber cerveja é muito pouco para os
cientistas. Em outubro passado, foi publicado na Nature um estudo com o
mapeamento do DNA da cevada. Entenda o que isso pode mudar na sua sagrada
cervejinha.
Para desbravar
as entranhas do código da cevada, até um consórcio foi criado, o International
Barley Genome Sequencing Consortium. Formado por pesquisadores e entidades do
mundo inteiro, o que foi publicado até agora pelo projeto é apenas o primeiro
esboço, mas foi o suficiente pra repercutir pelo mundo. A primeira coisa que
chama a atenção é o fato dessa sementinha carregar um genoma 30% mais complexo
que o nosso – boa parte do código é feita de sequências repetidas, o que
dificulta um pouco o trabalho dos cientistas. Dos 30.400 genes que
provavelmente compõem o código completo, 24.154 já foram devidamente mapeados.
As 6.246 letras restantes são conhecidas, mas estão embaralhadas.
Quando o
estudo saiu, a mídia, ávida por manchetes fáceis, frisou o fato de que ele iria
revolucionar a cerveja. Esse é um caminho possível (em um prazo bem longo), mas
os desdobramentos da pesquisa podem ir além. A ideia é tornar a semente mais
resistente à pragas e doenças, aumentar a quantidade de fibras da cevada, e,
pra felicidade dos boêmios, fazer um ajuste aqui outro ali para deixá-la ainda
mais apropriada para o consumo humano em forma de cerveja.
Além disso, o
consórcio diz que nossa relação com outras plantas de primeira necessidade
também pode melhorar com o mapeamento. O próprio trigo, por exemplo, é bem mais
complexo, mas, por fazer parte da mesma tribo - a Triticeae - tem muitas
características parecidas com a cevada e poderá se beneficiar dos avanços que a
descoberta de seu código genético fatalmente irá trazer.
FONTE: Revista Galileu