Vanessa
Barbosa
Mudanças à
vista, ou melhor, à mesa. Um estudo feito pelo Grupo Internacional de Consulta em Pesquisa Agrícola
(CGIAR, na sigla em inglês) para as Nações Unidas sugere que o aquecimento
global pode comprometer, até 2050, cerca de 20% da produção trigo, arroz e
milho – as três commodities agrícolas mais importantes e que estão na base de
metade das calorias consumidas por um ser humano.
É uma perda
preocupante, contra a qual será preciso lutar, sob a dura pena de mergulhar
bilhões de pessoas na fome – um mal que
atinge um em cada sete habitantes do planeta. Veja a seguir como a
elevação das temperaturas e as mudanças climáticas poderão afetar a produção
das principais commodities agrícolas no mundo
1) Banana: A maior ameaça das mudanças climáticas para a produção
de bananas é o aumento de surtos de pragas e doenças, principalmente nas terras
altas da Uganda, Tanzânia, Burundi, Ruanda e Congo Oriental, países onde a
fruta é sinônimo de segurança alimentar.
Não só isso, a
banana é altamente sensível à água disponível no solo. E essas regiões, que
juntas abrigam comunidades pobres de mais de 30 milhões pessoas, são
vulneráveis à falta de água, hoje um dos maiores desafios enfrentados pelos
governos locais.
2) Mandioca: A mandioca é a segunda cultura alimentar mais
importante nos países pobres e a quarta mais importante nos países em
desenvolvimento, com produção total de 218 milhões de toneladas. Além de
contribuir para a segurança alimentar, é fonte de renda para pequenos
proprietários.
Em geral, a
espécie é tolerante à seca e adaptável a algumas das mais altas temperaturas
encontradas na agricultura. Por outro lado, a mandioca não se dá bem com
excesso de água, é altamente vulnerável à podridão da raiz quando exposta a
inundações por longos períodos.
3) Cevada: Nem todos os alimentos serão prejudicados com um meio
ambiente mais hostil. Exemplo disso é a cevada, cereal rico em zinco e ferro
que poderia ajudar a melhorar a nutrição no mundo, especialmente em regiões
afetadas pela seca.
Grão valorizado
pela produção de bebidas alcoólicas, a cevada pode tornar-se ainda mais
atraente por outros motivos: a resistência ao calor, seca e à salinidade do
solo, uma ameaça real diante do avanço do nível dos mares.
4) Feijão: As altas temperaturas aparecem como o problema mais
grave, seguido pela seca, entre as ameaças da mudança climática para a produção
de feijão. Há motivos para preocupação, uma vez que a leguminosa representa, em
média, 20% da dieta dos países em desenvolvimento.
Em alguns, a
dependência é ainda maior, caso de Burundi (55%) e Ruanda (38%). No Brazil e
Tanzânia, o feijão responde por 14% das proteínas vegetais consumidas por uma
pessoa.
5) Grão-de-Bico: Outra fonte tradicional de proteína vegetal, o
grão-de-bico pode ser vulnerável às mudanças climáticas, em parte, porque
geralmente é cultivado em terras com quantidades mínimas de fertilizantes e
irrigação, ficando exposto a ataques de pragas e estresses ambientais.
Uma pesquisa
na Índia, feita ao longo de 10 anos, mostrou que o aumento da temperatura acima
de 35 ° C torna a planta mais suscetível a desenvolver uma podridão na raiz
causada por doenças. Hoje, as principais regiões produtoras são Índia, Turquia,
Paquistão, Bangladesh, Nepal, Irã e México.
6) Milho: Juntamente com arroz e trigo, o milho responde por 30%
das calorias de alimentos consumidos por 4,5 bilhões de pessoas em 94 países em
desenvolvimento.
Seu ponto
fraco: detesta calor. Testes de campo e dados históricos mostram que as
temperaturas superiores a 30 ° C associadas à seca reduzem o rendimento das
culturas. Só na África, 20% da produção está em risco com as alterações
climáticas.
7) Amendoim: O amendoim também está na mira do aquecimento global.
Segundo o estudo, secas constantes podem tornar as sementes vulneráveis à
contaminação por aflatoxina, uma toxina cancerígena produzida principalmente
pelo fungo Aspergillus flavus. Além
disso, as altas temperaturas e as chuvas irregulares dificultam a secagem do
grão e seu armazenamento.
8) Lentilha: Alimento altamente nutritivo, a lentilha consegue
resistir bem ao ambiente hostil. Sua resiliência a torna um coringa no sentido
de aumentar a segurança alimentar em países necessitados.
Mas as
lentilhas não são a prova de tudo, e sob certos estresses climáticos, podem ter
o rendimento afetado. A intensidade e principalmente a frequência das mudanças
no tempo e das tensões térmicas poderiam afetar severamente a produção.
9) Trigo: As alterações climáticas terão impactos significativos na
produção de trigo, cuja cultura é extremamente vulnerável ao calor e seca. A
irrigação pode ajudar o trigo a sobreviver a condições de estresse, mas
exigiria uma quantidade insustentável desse recurso.
Segundo o
estudo, o "estresse hídrico" associado ao aumento de 1°C na temperatura resultaria
na perda de 20% da produção.
10) Batatas: Dona da quarta maior safra de alimentos do mundo, as
batatas também estão na mira do aquecimento do planeta, e se tem um palavra que
não combina com esse cultivo é aquecimento. O medo é que as temperaturas
crescentes reduzam a produtividade da batata em locais onde pessoas já lutam
para suprir suas necessidades nutricionais básicas, como a Índia.
11) Soja: A soja é uma das culturas que mais sofrem sob altas
temperaturas. De acordo com o estudo, áreas nos EUA e no Brasil que cultivam a
proteína vegetal para exportação terão de enfrentar quedas acentuadas quando a
temperatura ultrapassar os 30 ° C com frequência.
Em 2070, a área adequada para
plantio de soja poderá cair 60% em relação à área de produção atual, devido à
falta de água e a verões mais intensos.
12) Arroz: A mudança climática pode levar a um declínio de 15% na
produção de arroz. O motivo? Cientistas suspeitam que as plantas estão gastando
mais energia para respirar em noites quentes, o que afeta a capacidade de
realizar fotossíntese. Não para aí.
As inundações
são um problema significativo para o cultivo de arroz, especialmente nas
planícies do sul e sudeste da Ásia. A ameaça crescente de salinidade é outro
problema, que resulta do aumento do nível do mar em grandes áreas de zonas húmidas
costeiras.
13) Inhame: Cultivo importante e meio de subsistência no oeste
africano, o inhame é vulnerável a pragas e doenças que poderiam intensificar-se
devido aos efeitos do clima. Desde 2000, indica o relatório, a taxa de
crescimento anual da produção de inhame tem sido irrisória (menos de 1%) em uma
das principais regiões produtoras, a Nigéria.
14) Fava: É a principal fonte de proteínas vegetais na dieta dos
países onde é cultivada, como Etiópia, Sudão, Marrocos, Egito e Síria. Cultura
importante na rotação de cereais, pois ajuda a fixar nitrogênio no solo, a Fava
pode ter de lidar com novos tipos de pragas com o aumento das temperaturas.
Para piorar, o cultivo tem fama de ser sensível à seca, que pode causar quebra
de safra drástica.
15) Sorgo: O estudo revela que um aumento de 1 ° C na temperatura
média da atmosfera poderia reduzir o rendimento do quinto cereal mais
importante (depois do arroz, trigo, milho e cevada) entre 4 e 8% em estações
chuvosas na Índia. Os grãos do sorgo são úteis na produção de farinha para
panificação, amido industrial, álcool e como forragem ou cobertura de solo em
regiões tropicais e subtropicais do mundo.
FONTE: Revista Exame