Pecuaristas,
ambientalistas e técnicos debatem o futuro do setor agropecuário na hora de
colocar em prática o novo Código Florestal Florestal. Entre as questões mais
frequentes, está a dúvida sobre como garantir água para o rebanho sem ferir a
legislação.
As
questões relativas à convivência dos animais com a natureza e à necessidade de
matar a sede das criações são importantes para todos os tipos de propriedades e
rebanhos, em todas as regiões do país. Na fazenda de Oscar José Caetano de
Castro, em Uberaba (MG), que tem mais de cem anos, uma cena se repete geração
após geração: todos os dias, o gado desce pela propriedade até as margens do
rio Cassu para beber água.
– Nossa família está nessa propriedade desde
1880 e sempre trabalhamos com pecuária nessa área. Até hoje, nunca tivemos
problemas em relação à degradação da beira do rio Cassu, mesmo com o
trânsito de gado de um lado para o outro nunca houve desmoronamento –
conta o pecuarista.
Castro já fez
o dever de casa em relação ao Código. Ele tem reserva averbada e licenciamento
ambiental, mas ainda precisa investir, com prazos a cumprir, no cercamento das
Áreas de Preservação Permanentes.
– Vamos ter
que fazer 15
quilômetros de cercas aqui e ficamos preocupados em
relação ao manejo da área. Imagino que até vá atrapalhar as sementes das
plantas nativas a vigorarem – explica.
Em outra
propriedade, no município de Nova Ponte (MG), a barragem do rio Araguari está
bem abaixo do nível normal, fazendo com que a mata ciliar fique mais longe. Com
a seca que castigou o Triângulo Mineiro, essa é a principal fonte de água para
o gado das propriedades da região. Muitos rebanhos fazem uma longa caminhada
pela mata para chegar até as margens.
– Não temos
outra alternativa, o gado precisa beber água e não temos informação nenhuma até
agora sobre o que devemos fazer – conta o também pecuarista Weber Bernardes de
Andrade.
Na prática, a
dificuldade é dimensionar os milhões de quilômetros de arame, por exemplo, e a
quantidade de madeira que serão necessárias para cercar as Áreas de Preservação
Permanente (APPs) e reservas em todo o país. As questões técnicas estão gerando
dúvidas para os pecuaristas.
Muitos deles
não sabem, por exemplo, se o fato de o gado transitar pela mata sem um corredor
específico realmente provoca degradação, ou se essa ação ajuda a reduzir o
risco de incêndio, já que elimina o capim seco. As lideranças questionam a
falta de um embasamento científico em
algumas das exigências.
O
superintendente de marketing da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu,
João Bento, questiona os conceitos que colocam os bovinos como vilões dentro do
ecossistema ,excluindo a convivência natural.
– Não estamos
dizendo que não deva haver áreas protegidas, tem que haver reservas ao longo do
rio, mas o que realmente contribuiu para diminuir ou acabar com parte das APPs
foram estratégias usadas no passado, quando se derrubava mata com trator e
motosserra, não foi o gado que destruiu essas áreas – argumenta Bento.
Paulo
Junqueira é especialista em consultoria ambiental e explica que os pecuaristas
vão precisar mesmo fazer corredores até os pontos de água.
– No
isolamento das áreas é permitido criar espaços para que o gado tenha acesso à
água como se fossem corredores. Não posso definir quantos corredores podem ser
feitos, mas posso definir que cada pasto localizado em área de APP pode ter um
acesso de água, independente da quantidade de módulos que o proprietário
possui, ele vai precisar fazer isso – explica o especialista.
Junqueira
deixa claro que não será permitido que os animais façam o pastejo dentro das APPs.
– O importante
é que a APP deverá ser regenerada, não pode mais haver capim nas áreas de
preservação, esse é um ponto crucial. O pecuarista precisa atentar a isso e
acabar com a pastagem em área de APP. Ele pode abandonar a área e deixar
regenerar naturalmente ou fazer um reflorestamento e plantar árvores. Muitos
criadores ainda não acordaram para o prejuizo e o custo adicional que devem
ter. Cercar toda a APP de fazendas maiores terá um custo muito elevado.
FONTE: Canal Rural