Luiz
Silveira e Ronaldo Luiz
O déficit de
infraestrutura logística no Brasil é um velho conhecido de governos e empresas,
mas a safra recorde que deve ser colhida em 2013 está impondo preocupações com
os gargalos de curtíssimo prazo. Os executivos e empresários do agro alertam
para a necessidade de medidas emergenciais para utilizar ao máximo a capacidade
de escoamento das estradas, hidrovias, rodovias e portos. O Ministério dos
Transportes já está trabalhando com entidades do setor para realizar uma
operação emergencial de escoamento de milho do Centro-Oeste para o Nordeste,
segundo o coordenador geral de planejamento da Secretaria Nacional de Política
de Transporte do ministério, Luiz Ribeiro.
O volume, no
entanto, ainda é pequeno. “A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) vai
fazer uma consulta pública para escolher um operador logístico para remover 100
mil toneladas de milho”, detalhou Ribeiro nesta quarta-feira (28), ao
participar de um fórum organizado em São Paulo pela Associação Brasileira das
Indústrias de Óleo Vegetal (Abiove) e pela Associação Brasileira de
Agribusiness (Abag).
A questão de
longo prazo é que a produção agrícola cresce mais rápido do que a
infraestrutura logística. Entre 2009 e 2013, em apenas quatro safras, a
produção anual de grãos deve saltar 32%, de 135,4 milhões de toneladas para
178,9 milhões.
Mas em 2013, o
problema de escassez de transporte deve ser agravado pela falta de caminhões e
caminhoneiros, alerta o diretor de logística da trading Noble Brasil, Ricardo
Nascimbeni, que é membro do comitê de logística da Abiove. “Só o crescimento da safra demandaria 20 mil
caminhões a mais, mas o que vimos é o licenciamento de pesados e semi-pesados
novos cair 30% em 2012” ,
alerta ele.
Já é rotina
ver, no pico da safra, montanhas de grãos armazenadas a céu aberto e filas de
caminhões nos portos. Mas os representantes do setor demonstram mais
preocupação com o ano de 2013. “Em 2012 tivemos uma situação inusitada, na qual
as colheitas de açúcar e de soja atrasaram, diluindo o transporte e mascarando
nossos problemas logísticos”, recorda o presidente da Abag, Luiz Carlos Corrêa
Carvalho. “Nos 20 anos em que estou nesse negócio, 2013 está despontando como o
pior na logística”, completa Nascimbeni.
Lei do descanso dos caminhoneiros
Além disso,
transportadores, caminhoneiros autônomos e contratantes de frete assinalaram no
fórum a necessidade de se flexibilizar a aplicação da nova lei dos
caminhoneiros, que exige novas paradas temporárias, períodos mínimos de
descanso e jornadas máximas ao volante. “Se não houver ajustes na lei, haverá
êxodo de caminhoneiros e o custo do frete vai aumentar de 35% a 70%”, diz o
presidente do Movimento União Brasil Caminhoneiro, Nélio Botelho.
“Se não
ocorrerem mudanças na lei, a pressão por custos no transporte aumentará, o que
poderá se refletir no preço dos alimentos, por exemplo”, Carvalho.
A aplicação da
lei foi adiada por seis meses, até março de 2013, mas Botelho não acredita que
as empresas, os motoristas e as estradas terão se adaptado a tempo. “Defendemos
a redução das horas ininterruptas de descanso de 11 para oito, e que o ponto de
parada fique a cargo do motorista, porque falta de pontos de parada nas
rodovias é um problema que não se resolve em menos de oito anos”, afirma o
representante da categoria.
Soluções emergenciais
Para minimizar
os prejuízos que a deficiência de transportes deve gerar em 2013, Nascimbeni
defende, além da flexibilização da nova lei, um plano emergencial de utilização
máxima da capacidade logística do País. Dentre as medidas, ele cita como
exemplo a criação de um regime especial de tributação para as operações de
transporte intermodal, nas quais a carga passa de um meio de transporte para
outro. “Essas operações têm uma complexidade tributária que pode ser
rapidamente resolvida, no caminho de se ter certeza de que todo o transporte
existente seja disponibilizado”, defende.
Diante da
falta de caminhões e da pequena malha ferroviária e hidroviária do País, o
executivo da Noble defende ainda que o governo prorrogue a redução das taxas de
juros para a compra de caminhões novos no Programa de Sustentação do
Investimento (PSI), que está em 2,5% até o fim do ano.
A Abag e a
Abiove decidiram enviar uma carta à Casa Civil da Presidência da República
solicitando medidas emergenciais para o escoamento da safra recorde. Outras
entidades presentes no fórum também poderão ser signatárias.
FONTE: Sou Agro