Marcelo
Lara
Monte
Carmelo-MG
Nos pequenos
espaços entre os talhões de café, a produtora Aparecida dos Reis Dias cuida das
plantações de pimenta. Filhos e sobrinhos, nas horas de folga, se juntam para
ajudar na colheita.
– Três são
filhos e dois são sobrinhos. Eles estudam, mais é diversão do que trabalho,
porque eles gostam, pensam em crescer e gostam de trabalhar. Se fosse para
colocar gente pra colher a gente ia abandonar, porque não tem como – diz a
produtora.
O cultivo
integrado café-pimenta proporciona uma renda a mais. Cada variedade, segundo
Aparecida, tem um preço diferenciado.
– Tem a Comari
Amarela, ela hoje está por volta de R$ 3 o pet, tem a pimenta doce, que é de
bico, ela está R$ 4,50 hoje. A bode vermelha está R$ 5, só que a gente gasta
mais do que pega.
Para implantar
um hectare de pimenta, o custo passa de R$ 5 mil, sem contar a mão de obra para
colheita. Se não for familiar, a mão de obra pode comprometer até 50% da
receita. Os desafios do setor passam por mudanças na forma de comercialização.
Até a tradicional garrafa pet – na qual o produto é entregue, em uma mistura que
leva principalmente vinagre e sal – vai sair do mercado.
– A questão
das pets, apesar de ser muito prático para o produtor, a tendência ela ser
substituída por bombonas, por uma questão sanitária. As grandes indústrias já
trabalham com bombona só – afirma o agrônomo Roberto Pena, da Emater/MG.
As bombonas
têm capacidade para armazenar 100
kg de pimenta, ensacadas dentro das normas sanitárias. O
produtor Wilton Abreu Malta carregou, na semana passada, 20 mil garrafas pet de
pimenta, que foram para o mercado de Minas Gerais e São Paulo.
– A gente
vendeu na faixa de R$ 5,57, R$ 5,58, varia de acordo com a pimenta. A habanero
grandona, o pessoal cata bastante por dia. A gente vende o quilo dela a R$
3,50. Em relação ao ano passado, o mercado está crescendo bastante – avalia
Malta.
Revitalização do setor
Os produtores
mineiros sentem falta de uma cadeia produtiva organizada e querem revitalizar o
setor. Primeiro, na forma de associativismo; depois, formando uma cooperativa
para atender às necessidades do mercado com conceitos modernos.
Para o
presidente da Associação dos Produtores de Pimenta de Monte Carmelo e Região,
Helvio Xavier Resende, a revitalização passa por questões como a padronização
dos produtos.
– A questão da
assistência técnica, a padronização desde a semente, a muda e para que
possivelmente possa levar a tecnologia de forma que possa estar ocorrendo a
padronização dos frutos.
De acordo com
o secretário de Agricultura de Monte Carmelo, Pedro Paulo Marques, há
perspectivas de o município obter o apoio da Embrapa no trabalho de
padronização.
– A gente já
manteve contato com a coordenação da Embrapa. O coordenador adiantou pra gente
que existe uma vontade muito grande da Embrapa de estar desenvolvendo aqui um
projeto de indicação geográfica da pimenta, levando em consideração parte de
Minas e Goiás. O mercado é eminente, existe o mercado – afirma o secretário.
Os mineiros
apostam em novas variedades para ampliar o mercado, como a Bhut Jolokia.
Originária da Índia, a pimenta é considerada a variedade mais quente do mundo.
Dentro dos critérios técnicos usados para calcular a ardência da pimenta, a
malagueta alcança mil pontos. Já a Bhut Jolokia chega a um milhão de pontos.
Nem mesmo o produtor Wilton Abreu Malta experimentou o produto.
– Não experimentei
não porque não tenho coragem. Essa pimenta vai para restaurantes finos no Sul e
para Israel, onde é usada para como bomba de efeito moral. E funciona, porque o
trem é brabo.
FONTE: Canal Rural