Marco
Antônio dos Santos
Agrometeorologista
da Somar Meteorologia
A maioria dos
produtores nunca pensa no clima ou como ele irá se comportar antes de se
iniciar na safra. Quase que a unanimidade só pensa em que semente irá adquirir
ou que fertilizantes ou defensivos irão comprar para a safra. Porém, de todos
esses insumos tão importantes para o sucesso do produtor, o clima é sem duvida
o mais importante, contudo, infelizmente não dá para ir a loja e adquiri-lo.
Exemplos
típicos disso são as perdas causadas pelo excesso de dias chuvosos sobre a
safra de soja em Mato
Grosso no início do ano, pois muitos produtores com o afoito
de plantar a 2ª safra plantaram suas variedades de soja para serem colhidas
nesse período, e se esqueceram de que em anos de La Niña a possibilidade de que
ocorram longos períodos de invernadas é muito grande, principalmente entre
janeiro e fevereiro.
Outro exemplo
foi em 2010, com a mesma 2ª safra, quando, num ano cujo regime de chuvas está
sendo regido pelo El Niño, é certo de que as chuvas acabem bem mais cedo no
outono. Dito e feito: as perdas naquela safra ultrapassaram os 30%. Sabendo de
tudo isso, fico aqui pensando que ninguém plantou alguma variedade de soja,
cujas principais características sejam uma maior tolerância ao excedente
hídrico só porque sabia que o verão seria extremamente chuvoso ou que não iriam
plantar suas lavouras de milho e/ou algodão após a janela ideal, uma vez que
estava previsto o corte prematuro das chuvas. Mas, como meu mestre em agrometeorologia Marcelo
Bento Paes de Camargo ensinou-me, o clima é à base de toda a
cultura. Pois de nada adianta ter a melhor variedade, melhor solo e a melhor
tecnologia, se o clima não ajudar...
No Brasil,
mesmo o Centro-Oeste e Sudeste, que tiveram em 2012 um clima excepcional para
os grãos, as Regiões Sul e Nordeste sofreram os impactos terríveis da seca,
gerando enormes prejuízos. E é esse clima de incerteza que move o mercado hoje em dia. Ministrando
uma palestra num dia desses em
São Paulo , CEO de uma grande trade proferiu o seguinte
comentário: "O mercado está a cada dia muito mais climático". E isso
é uma verdade. A cada susto que o clima nos prega, seja positivo ou negativo,
rapidamente o mercado o absorve e transfere aos preços das commodities, levando
a queda ou elevação de seus preços no cenário mundial.
Para que não
sejamos pegos nessa ciranda climática, o acompanhamento das condições
climáticas, não só da nossa região, como em todo o Brasil e inclusive no mundo,
faz-se cada vez mais necessário. Com o advento da tecnologia e a aquisição de
supercomputadores, os modelos climáticos estão cada vez mais precisos e
confiáveis.
O grande
problema no Brasil ainda continua sendo a aferição desses parâmetros, ou seja,
Estações Meteorológicas, cujo número está muito aquém do ideal. Elas não são
capazes de fazer a previsão, mas servem de base para que os modelos consigam
ver onde estão errando e onde estão acertando e ficar cada vez mais precisos em
suas decisões.
Além de tudo
isso, tem ainda a mão do meteorologista, um profissional apto a interpretar
todos os "sinais" da atmosfera e traduzi-lo para uma linguagem comum,
para que o mais comum dos usuários possa saber, numa linguagem simples, como
será o tempo hoje e nos próximos dias, além do que, para alguns, o momento não
interessa tanto, o que necessitam é saber como será o clima num horizonte ainda
mais distante – 6 a
12 meses. E é aí que o meteorologista realmente se faz necessário, pois só ele
poderá traduzir o que os modelos climatológicos de longo prazo estão dizendo.
Até porque, além da falta de estações meteorológicas para cobrir todo o
território nacional, ainda temos que lidar com os fenômenos climáticos El Niño
e La Niña , que
tanto mexem nos regimes de chuvas e temperaturas do planeta. Dependendo da
época e da intensidade em que aparecem, podem causar sérios danos ou até mesmo
benefícios à agricultura.
Esses
fenômenos climáticos provocam mudanças nos regimes de chuvas e temperaturas
também na América do Norte, África e Ásia, causando danos ou benefícios à produção
agrícola dos países desses continentes. E, consequentemente, mexendo nos preços
das commodities. Acima de tudo isso, está uma variável ainda mais drástica que
é a Oscilação Decadal do Oceano Pacífico, regido por inúmeros fatores, sendo um
deles a atividade solar.
Quando o sol
entra numa fase mais fria, a perspectiva para os próximos anos é que ocorra
muito mais fenômenos La Niña
do que El Niño e isso tem seus impactos, como reduções nos volumes anuais de
chuvas, temperaturas mais baixas do que o normal. O mesmo acontece quando essa
oscilação está positiva, ou seja, quando o sol está mais quente, imitindo mais
radiação solar. Quando isso ocorre, espera-se mais El Niño do que La Niña.
Acabamos de
entrar numa nova fase fria, igual à que foi observada entre os anos de 1947 a 1976, quando o Brasil
registrou um decréscimo de 10% a 30% nos volumes anuais de chuvas, além da uma
maior ocorrência de geadas. Teremos então que mudar nossa maneira de produzir?
Não. Apenas teremos que analisarmos melhor as previsões meteorológicas de médio
e longo prazo, já que numa fase mais fria, os volumes totais de chuvas nas
estações de transição – primavera e outono – deverão ficar abaixo da média, na
maioria dos anos. Sendo que, no verão, as chuvas irão ficar mais concentradas
no Centro-Oeste e Sudeste e no inverno no Sul e Nordeste do Brasil. Isso poderá
trazer sérias consequências para a geração de energia elétrica. Além de que o
uso de variedades de ciclo mais curto poderá ser a chave para o sucesso em anos
que as características climáticas sejam essas. E dessa forma, o profissional de
meteorologia deverá ser ainda mais valioso, já que só ele poderá elucidar tais
oscilações.
E para quem
está lendo esse texto e pensando que a meteorologista só afeta o dia a dia da
agricultura se engana. As condições climáticas influenciam todas as áreas da
economia, como as vendas de bebidas e de alimentação, vestuário, vendas de
eletrodomésticos, como ventiladores e ar condicionados, na geração de energia
elétrica, até mesmo na venda de remédios, como para resfriados. Atrás de tudo
isso, está o profissional em meteorologia, que tem que ser no fundo um
consultor em todas essas áreas.
Assim, para
quem não quer perder nada sobre o que está acontecendo e o que acontecerá com o
clima no mundo, no Brasil e, é lógico, na sua região, acesse os diversos sites
meteorológicos que estão disponíveis na internet, como Somar, CPTEC, NOAA,
entre outros. Além disso, fique por dentro nos boletins meteorológicos
divulgados diariamente nas TVs, que servem de apoio a você, produtor, que leva
a sério a arte de produzir alimento. E nunca se esqueça do meteorologista,
principalmente nesse dia 23, que é o seu dia! Parabéns a todos esses
profissionais.
FONTE: Rural BR Tempo