Roberta Silveira
São
Paulo-SP
O Brasil pode
ser atingido por 12 novas pragas exóticas nos próximos anos. Este é o cálculo
feito por especialistas com base em ameaças vindas de países vizinhos. Cerca de
50% das pragas já foram detectadas e colocam o sistema fitossanitário nacional
em alerta.
A lagarta
helicoverpa provocou estragos em plantações do país e já causou mais de R$ 2
bilhões em prejuízos nesta safra. A praga causou grandes perdas nas plantações
de algodão da Bahia, e também prejudicou culturas como a soja e o milho em
outros nove Estados.
O inseto é um
animal exótico, não é natural da fauna brasileira e é conhecido como praga de
quarentenária. Um seminário sobre ameaça fitossanitária reuniu pesquisadores do
tema em São
Paulo. Especialistas já identificaram aproximadamente 150
novas pragas que podem prejudicar a produção nacional de alimentos.
A perspectiva
é de que até 2020, pelo menos 12 espécies se desenvolvam no Brasil. São
insetos, plantas, fungos e outros tipos de ameaças da América do Sul que podem
cruzar a fronteira. É o que explica Evaldo Ferreira Vilela, pesquisador da UFV.
– As regiões
de fronteira e o Centro-Oeste brasileiro são entradas para as pragas devido à
vizinhança com países sul-americanos. Mato Grasso e Goiás são as regiões mais
prováveis. Curiosamente, a maior parte das nossas pragas introduzidas têm
entrado pelo norte do país – conta Vilela.
A praga que
mais preocupa os pesquisadores é a monília do cacaueiro. A doença que ataca
plantações no Peru, Equador e Colômbia, vem avançando em direção ao Brasil. Já
existe a previsão de que ela possa atingir plantações de cacau num prazo de até
dois anos.
– A Bahia
possui grande área de plantação de cacau. Uma das nossas preocupações é uma
ameaça fitossanitária que diz respeito à monilíase do cacaueiro, praga que está
na região andina, e também na região amazônica sob controle. É uma grande
ameaça para a agricultura da Bahia, porque nós temos uma região de 500 mil
hectares, é um maciço de cacau na região baixo sul do nosso Estado – destaca
Sueli Xavier de Brito Silva, fiscal estadual agropecuária da Bahia.
O pesquisador
da Embrapa Rafael Moreira Soares diz que o controle destas pragas costuma ser
difícil, principalmente pela falta de conhecimento para a prevenção e o
combate.
– O agricultor
tem que estar informado. Essa é a principal ferramenta para não deixar as
coisas acontecerem. O ideal é que se trabalhe primeiro preventivamente para
evitar que uma praga entre no país e se torne um problema econômico – ressalta
Soares.
O diretor
executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), Eduardo Daher,
destaca que se a praga é nova, é preciso um novo tipo de defensivo agrícola,
mas a burocracia para a liberação dos produtos atrasa o combate no país.
– A praga, no
caso do sudoeste baiano, em duas semanas já causa prejuízo ao produtor. O
conjunto do marco regulatório federal leva meses, até anos para aprovar uma
nova molécula. Seguramente, a lagarta vai ganhar da burocracia – diz Daher.
– Precisamos
rever a legislação, de forma que de fato se possa fazer com que as emergências sejam
tratadas como emergências. Lembrando que a agricultura brasileira é sem dúvida
questão de segurança nacional. Uma praga com essa intensidade precisa ser
combatida com ferramentas de segurança nacional, assim como o exército tem em
alguns casos – desabafa Luís Eduardo Rangel, Coordenador de Agrotóxicos do
Ministério da Agricultura.
FONTE: Canal Rural