Os
agricultores de zonas protegidas precisam de apoios para ter uma atividade
compatível com a defesa da natureza, mas os ambientalistas receiam que, devido
à crise econômica, Portugal aposte menos no desenvolvimento rural e mais nas
ajudas diretas.
Os
agricultores que estão dentro das áreas protegidas "têm de ter ferramentas
para que possam fazer uma agricultura que continue a ser compatível com os
valores naturais que lá existem, o que só pode ser conseguido através da
Política Agrícola Comum, com medidas agro-ambientais específicas para aqueles
locais", disse hoje à agência Lusa Domingos Leitão, da Sociedade
Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).
A
nova reforma da PAC "deu mais liberdade aos Estados membros para
investirem mais nos apoios diretos ou no desenvolvimento rural e nós tememos
que Portugal, por causa da situação político-financeira em que está", opte
por apostar mais nas ajudas diretas, alertou.
Domingos
Leitão explicou que os apoios diretos não são co-financiados, são pagos a 100%
pela União Europeia (UE), enquanto as ajudas do plano de desenvolvimento rural
são pagas a 85% pela UE até 2016, e depois a 75%.
"Quer
dizer que os Estados membros que têm problemas financeiros, como o português,
vão refrear-se a investir mais no desenvolvimento rural e vão investir mais nos
apoios directos porque não têm de pôr dinheiro do Orçamento de Estado e isto é
muito perigoso", realçou o coordenador do Programa Terrestre na SPEA.
No
final de Junho, os países da UE chegaram a acordo sobre a nova reforma da PAC
que, segundo o comissário europeu da Agricultura e Assuntos Rurais, pretende
"tornar os pagamentos directos mais justos e mais 'verdes' e reforçar a
posição dos agricultores no seio da cadeia alimentar". Já a ministra da
Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território, Assunção Cristas,
defendeu que esta PAC "é mais amiga do ambiente".
Domingos
Leitão referiu que "a agricultura sustentável pode ser prejudicada se não
tiver instrumentos que permitam a sua existência" e explicou que um
agricultor a produzir cereal no interior no Alentejo sem regadio ou carne de
vaca ou borrego em pastagem extensiva tem "muitas contingências",
pois está afastado dos mercados, as suas pastagens produzem menos e recebe
menos do que um agricultor do litoral e de zonas mais produtivas.
No
entanto, são os agricultores de regiões do interior e das áreas protegidas que
desempenham um papel relevante na protecção da natureza e do ambiente, dos
solos, da água e da biodiversidade, assim como na criação de emprego e na
fixação do carbono, uma preocupação cada vez mais presente no âmbito das
alterações climáticas.
"É
muito importante não abandonar os agricultores que estão em regiões remotas do
país ou que produzem em sistemas agrícolas menos produtivos, mais sustentáveis,
e continuar a apoiá-los", realçou Domingos Leitão. A SPEA realiza hoje o
seminário Agricultura+, porque "é possível fazer uma agricultura realmente
sustentável".
FONTE:
Lusa/SOL