Embora
o trabalho no campo seja pesado, as crianças ainda atuam na agricultura
familiar. Apesar de os adultos hoje terem se conscientizado da importância de
outras atividades na vida das crianças, como estudo e lazer, a ocorrência da
“ajuda” infantil continua presente na estrutura de trabalho da agricultura
familiar. É o que mostra dissertação apresentada no mestrado profissional em
Promoção da Saúde e Prevenção da Violência da Faculdade de Medicina da UFMG
pela psicóloga Fátima Lucia Caldeira Brant de Oliveira.
Com
o objetivo de compreender as representações sociais que essas crianças têm
sobre o trabalho infantil na agricultura familiar, a psicóloga direcionou seu
estudo para a participação delas em atividades da agricultura em um município
do Centro Oeste mineiro. Para compreender também como os pais dessas crianças,
pertencentes a uma associação de trabalhadores rurais da agricultura familiar,
entendiam o trabalho infantil no presente e no passado, a autora fez um
trabalho de campo ao longo 12 semanas, no mesmo município.
Para
uma análise qualitativa, os dados foram coletados em dez entrevistas
semidirigidas. Durante as entrevistas, foi analisada a visão que os
agricultores tinham do trabalho infantil no passado, quando eram crianças,
assim como a visão atual deles, com relação aos filhos.
Além
das entrevistas individuais, foram formados três grupos focais: sendo dois
grupos com 10 trabalhadores da agricultura familiar, escolhidos de forma
aleatória; e outro com 12 crianças com idade entre 6 e 11 anos de idade.
O
que o trabalho de Fátima Brant evidencia é que os trabalhadores têm a concepção
do trabalho infantil como uma “ajuda”. “O direito de brincar, o direito de
estudar, é tido como prioridade pelos pais, que hoje entendem das leis do
trabalho infantil como forma educativa”, afirma.
As
representações sociais apresentadas na pesquisa evidenciaram que, na
agricultura familiar, inserir as crianças no trabalho agrícola é, além de tudo,
um processo de aprendizagem, sem exploração e rendimentos. Hoje, a relação das
crianças com a agricultura tem um papel de socialização e identidade. Para a
autora do estudo, há uma questão muito forte do “amor à terra”, e o desejo de ensinar aos filhos o trabalho na agricultura
familiar. Em relação às crianças, elas revelam gostar de ajudar no campo e
dizem realizar as tarefas sem que isto seja uma exigência familiar.
Apesar
disso, foi de comum acordo entre todos os grupos que o trabalho na terra é
“pesado e desgastante”. Segundo Fátima Brant, ainda que a atividade não seja
exploratória, há evidências de riscos nas atividades desenvolvidas, que não
estão imunes a processos que prejudiquem a saúde. “Precisa-se perceber que a
participação das crianças na agricultura familiar oferece riscos. Como citado
por eles, há muitos casos de picadas de animais peçonhentos, câncer de pele
devido às longas horas expostos ao sol”, exemplifica.
FONTE:
Assessoria de
Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG