Anelise
Frozza
A Helicoverpa armigera é uma lagarta que
vem causando inúmeras perdas em lavouras brasileiras desde 2012 e tem
surpreendido produtores e pesquisadores por seu poder de destruição. Até o
início de 2013, a
praga não havia sido identificada no Brasil, por isso produtores e
pesquisadores pensavam que a causadora dos prejuízos seria a Helicoverpa zea, conhecida como lagarta
do cartucho do milho. De acordo com a Embrapa, a campo, é quase impossível
identificar a Helicoverpa armigera e
separá-la da subespécie zea. Apenas exames laboratoriais têm condições de
diferenciá-las.
A armigera já
é conhecida na literatura científica internacional desde 1809, quando foi
descrita pelo entomologista alemão Jacob Hübner. Sua presença já foi registrada
na África, Ásia, Oceania e Europa (regiões Sul e Central). No Brasil, ainda não
há informações precisas sobre como a espécie chegou. Em dezembro de 2012, a Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) recebeu pedidos de ajuda de agricultores
baianos sobre uma lagarta que não conseguiam controlar.
A
classificação da espécie Helicoverpa
é complexa e requer conhecimentos muito específicos de suas estruturas reprodutivas.
Na safra 2012/2013, em amostras de lavouras de soja, milho e algodão da Bahia,
Paraná, Mato Grosso e Distrito Federal, a Embrapa identificou, com base no
aparelho reprodutor masculino e na análise molecular de adultos, a armigera.
A espécie foi
regulamentada pela Embrapa como quarentenária A1 para o Brasil. Pragas
quarentenárias A1 são aquelas não presentes no país, consideradas de alto risco
e como potencial de causar importantes danos econômicos. Há relatos de mais de
cem espécies de plantas que podem ser hospedadas e atacadas pela Helicoverpa armigera, inclusive outras
culturas comerciais – além de milho, soja e algodão –, como feijão, sorgo e
tomate.
A fase de
lagarta da espécie armigera ataca preferencialmente as partes de frutificação
das plantas, podendo também se alimentar de partes vegetativas, como folhas e
hastes. A Helicoverpa armigera tem
alto grau de polifagia [variedade de espécies e partes de plantas que come],
ataca várias espécies agrícolas, bem como hospedeiros selvagens. A praga se
alimenta mais rápido que outras pragas presentes no Brasil, por isso seu
potencial de destruição é grande.
A armigera tem
alta fecundidade e a mariposa tem alta capacidade de dispersão, podendo colocar
milhares de ovos. Esses ovos são postos normalmente nos botões florais, nas
vagens e nas sementes (no caso do milho), o que causa um dano muito maior do
que as espécies que comem somente a folha.
A subespécie
tem alta capacidade de adaptação a diferentes ambientes, climas e sistemas de
cultivo. Apresenta, ainda, uma elevada capacidade de reprodução e sobrevivência
e tem potencial de desenvolvimento de resistência a inseticidas. A dose de
produtos necessários para o controle da praga é maior na comparação com outras,
o que torna o controle mais difícil. Esse conjunto de características está
preocupando produtores e pesquisadores brasileiros.
Proliferação da lagarta
Segundo a
Embrapa, a utilização de cultivares transgênicos - alguns com resistência a
herbicidas -, o uso de sementes não certificadas por alguns produtores e a
implantação da "ponte verde" (uma sequência ininterrupta de lavouras
que beneficia pragas como a Helicoverpa
armigera) contribuem para uma significativa mudança na diversidade de
espécies vegetais invasoras e na ampliação de espécies causadoras de doenças e
artrópodes associados às plantas cultivadas.
Essa situação
acaba propiciando o surgimento de pragas e doenças anteriormente reconhecidas
como secundárias, ou ainda pragas restritas a uma ou outra cultura que passam a
atacar todas as demais culturas. Os agentes de competição interespecífica
(pragas, doenças, ervas daninhas) têm sido controlados com agrotóxicos, muitas
vezes de forma recorrente e ineficaz, com pulverizações sem rigor técnico e sem
o devido monitoramento das pragas.
De acordo com
a Embrapa, esse sistema agrícola desequilibrado é o que tem propiciado a
abundância contínua de alimentos para as pragas, contribuindo
significativamente para a proliferação de insetos. Essas pragas têm atingido
níveis populacionais tão elevados que acabam superando o limiar de atuação dos
agrotóxicos, comprometendo a eficiência de controle.
Controle
Após os
prejuízos causados pela lagarta na última safra de algodão, principalmente na
Bahia, e também em lavouras de soja e de milho em diversas regiões do Brasil, o
governo federal se mobilizou para desenvolver ações de combate e de defesa
contra essa ameaça.
Para conter o
avanço da subespécie, a Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da
Agricultura publicou, no dia 22 de abril de 2013, no Diário Oficial da União (DOU),
a Instrução Normativa (IN) número 12, que define regras para prevenção,
contenção, controle e erradicação da lagarta armigera.
O uso de
controle químico é indicado como uma medida emergencial. Entre as ações de
manejo integrado sugeridas pelo Ministério da Agricultura para evitar e
combater a Helicoverpa armigera, estão:
- A utilização
da rotação de culturas, destruição de plantas vivas voluntárias [guaxas] e
restos culturais;
- A adoção de
manejo integrado de pragas de forma emergencial;
- A utilização
de armadilhas, iscas e outros métodos de controle físico;
- A adoção do
período de vazio sanitário;
- A adoção de
áreas de refúgio no plantio;
- A semeadura
das culturas de soja, milho e algodão no menor tempo possível, para reduzir o
período de disponibilidade de alimento para a praga;
- O uso de
controle biológico, como a liberação de insetos parasitoides e predadores,
fungos, bactérias e vírus que atacam a praga, reduzindo sua população;
- O uso de
cultivares que reduzem a população da praga.
Para a
Embrapa, além de medidas emergenciais a serem adotadas para o restabelecimento
do equilíbrio nas lavouras, como o estabelecimento de um consórcio para alerta
da ocorrência da praga (Consórcio Manejo Helicoverpa), é fundamental a adoção
de práticas do Manejo Integrado de Pragas já desenvolvidos pela pesquisa, como
o planejamento da área de cultivo, o monitoramento contínuo de pragas, a
utilização do controle biológico, o registro emergencial e o uso de inseticidas
químicos e biológicos, além da tecnologia de aplicações de agrotóxicos e
bioinseticidas.
Prejuízos
Os prejuízos
causados pela Helicoverpa armigera no
Brasil ainda não foram mensurados. Segundo a Embrapa, é preciso uma validação
dentro de estudos econômicos para mensurar as perdas causadas pela lagarta.
Sabe-se, no entanto, que a armigera é considerada um problema grave, tendo
afetado lavouras de vários segmentos, principalmente a produção de algodão na
Bahia.
FONTE: Canal Rural