Há outros
tipos de ameaças à conservação da Amazônia, além do desmatamento, que ocorrem
em pequena escala e em áreas de várzea da região – como a extração inadequada
de madeira e o manejo inapropriado de recursos pesqueiros –, que podem gerar
transformações tão importantes na floresta nas próximas décadas quanto as
queimadas. O alerta foi feito pelo pesquisador do Instituto de Desenvolvimento
Sustentável Mamirauá (IDSM) Hélder Queiroz.
– A diminuição
do desmatamento é, sem dúvida, muito importante para a conservação da Amazônia,
mas ele não representa a única ameaça ao bioma – afirmou Queiroz.
A extração
inadequada de madeira da Floresta Amazônica, por exemplo, pode alterar o número
de espécies de animais que vivem em uma determinada área da selva. De acordo
com o pesquisador, algumas espécies de árvore cuja madeira tem grande valor
comercial – e, por isso, são mais visadas – também são importantes para
alimentação da fauna. A retirada dessas espécies de árvore de forma desordenada
pode alterar a composição florística e, consequentemente, de espécies de
animais de uma área da floresta.
– A abertura
de pequenas clareiras para remoção específica dessas espécies de madeira não é
detectada pelas imagens de satélite porque, geralmente, elas têm poucos metros
quadrados – – disse Queiroz.
Outra ameaça
que está se tornando um problema na Amazônia, de acordo com o pesquisador, é a
pesca desordenada da piracatinga (Calophysus macropterus). A piracatinga é uma
espécie de peixe sem escama, apreciada para consumo, conhecida popularmente
como “urubu d´água”, por ser carnívora e se alimentar de restos de peixe e
outros animais.
Para a pesca
do peixe na região amazônica está sendo utilizada como isca a carne de jacaré e
de boto cor-de-rosa. Por causa disso, o número de botos cor-de-rosa diminuiu em
diversas regiões da Amazônia, indicam dados de monitoramento da espécie na
região da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) de Mamirauá fornecidos
pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
Já em terra a
caça desordenada de determinadas espécies de animais tem resultado no
surgimento áreas de floresta em pé nas quais as principais espécies de animais
responsáveis pela reprodução, polinização e dispersão de sementes
desapareceram.
FONTE: Agência FAPESP