Apesar da alta
do dólar, os preços domésticos da grande parte dos fertilizantes utilizados
pelos produtores brasileiros estão mais baratos em reais agora do que há um
ano. Para a maioria dos nutrientes - a principal exceção é a ureia -, a redução
dos preços internacionais se sobrepôs à valorização da moeda americana e
garantiu relações de troca ainda favoráveis aos agricultores - mesmo que menos
vantajosas, em razão da queda das commodities em geral.
De acordo com
levantamento do Rabobank, os preços internacionais dos fertilizantes recuaram
de 20% a 25% de agosto de 2012 até o mês passado, ante um aumento de 17,43 % do
dólar em relação ao real no mesmo período, segundo cálculos do Valor Data. Para
Jefferson Carvalho, analista de insumos da subsidiária brasileira do banco
holandês, as cotações em reais podem ser sustentadas pelo câmbio e pela alta
dos fretes, embora não haja espaço para "explosões".
Os preços
globais desses insumos caíram em linha com o recuo de commodities como soja,
milho, café e açúcar. No longo prazo, a tendência também é de queda, por conta
de investimentos em curso para a ampliação de capacidades de produção em
diversos países. Dirk Jan Kennes, estrategista global de insumos do Rabobank,
destaca que os aportes são particularmente expressivos na área de derivados do
nitrogênio, que com fosfato e potássio forma o tripé básico para a produção de
adubos.
Em Sorriso (MT),
maior município produtor de soja do Brasil, a tonelada do cloreto de potássio
caiu de R$ 1.406,94, em agosto de 2012, para R$ 1.319,03 no mês passado,
conforme o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP). O MAP
(fosfato monoamônico) recuou 3%, para R$ 1.592, mas a ureia subiu 5,4%, para R$
1.310,15. Segundo Mauro Osaki, pesquisador do Cepea, a ureia também caiu no
exterior, mas a alta do dólar foi proporcionalmente maior.
Mesmo com o
recuo dos preços em reais dos nutrientes, os custos em Mato Grosso para o
plantio de soja nesta safra 2013/14, que terá início em 15 de setembro, estão
mais altos. Isso porque o volume por hectare usado pelos agricultores deverá
crescer, conforme Otávio Behling, analista de custo de produção do Instituto
Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), ligado à federação da
agricultura e pecuária do Estado (Famato).
Segundo o Imea,
o custo total dos fertilizantes para o plantio da soja em 2013/14 chega a R$
646,92 por hectare, ante R$ R$ 518,05 em 2012/13 - um aumento de 24,8%. Os
custos com macronutrientes subiram 23,78%, enquanto com micronutrientes o
incremento foi de 55,92%. Conforme Behling, o crescimento do uso de derivados
de fósforo será da ordem de 10%; no caso dos potássicos, de cerca de 5%. Os
fretes maiores para levar calcário para o Centro-Oeste também influenciam o
aumento do custo.
Ainda conforme o
Cepea, mesmo com a queda dos fertilizantes em dólar a relação de troca entre a
soja e o insumo piorou, uma vez que as cotações internacionais do grão recuaram
mais. Em Sorriso, eram necessárias 27,64 sacas de 60 quilos de soja para
comprar uma tonelada de cloreto de potássio em agosto, ante 21,57 no mesmo mês
de 2012. Mas a relação de troca é favorável. Em março de 2009, por exemplo, uma
explosão dos preços dos fertilizantes tornou necessária a venda de 60 sacas de
soja para a aquisição de uma tonelada do produto.
Em Rio Verde
(GO), 25,03 sacas de soja eram suficientes para a compra de uma tonelada de
fertilizantes no mês passado, ante 20,02 sacas da oleaginosa em agosto de 2012.
Em Cascavel (PR), a relação subiu de 18,39 para 22,67 na comparação. Em Mato
Grosso, a relação de troca esteve pior no primeiro semestre: em maio, eram 33
sacas de soja para uma tonelada de adubo, ante 27 sacas em julho. Nos últimos
dois meses, o dólar em alta ajudou a melhorar a remuneração pela soja, e
consequentemente, contribuiu para melhorar o cenário para o agricultor.
De acordo com
informações do Cepea, em Luís Eduardo Magalhães, no oeste da Bahia, entre 73% e
75% dos produtores encerraram a aquisição de adubos para 2013/14 até agosto,
contra quase 90% no mesmo mês de 2012. No Paraná, o percentual ficou próximo de
86%, em Rio Verde (GO) perto de 90% e, em Mato Grosso, a compra está
praticamente encerrada. No Estado, conforme o Imea, até julho 91% do volume de
insumos para a safra já estava definido, mas no mesmo intervalo de 2012 -
quando o preço da soja estava mais elevado - eram 100%.
Se o preço em
dólar dos fertilizantes continuar em declínio no mercado internacional, quem
deixou para adquirir o insumo na última hora poderá até pagar menos, na
avaliação de Behling. Já Osaki, do Cepea, estima que o produtor que deixou para
adquirir os fertilizantes em junho pagou cerca de 10% a mais. Nas últimas três
safras, o produtor estava mais capitalizado e havia antecipado ainda mais as
aquisições do insumo.
FONTE:
IDEA Online