Arborização e Paisagismo:
Primeiro passo para uma cidade mais sustentável
Escrever
sobre sustentabilidade é muito fácil, chega ser até mesmo poético e filosófico
quando falamos do verde, do meio ambiente, da preservação e da
eco-conscientização. A verdade é que a prática ecológica e sustentável está
muito longe da teoria que pregamos. Por mais que busquemos uma vida
ambientalmente sustentável estamos a cada dia mais distante dessa realidade.
Estou cansado de ver artistas globais, por exemplo, que nunca plantaram uma
árvore na vida, erguendo hipocritamente placas e vestindo camisas de “Vamos
Salvar o Planeta”...Pregando aquilo que não fazem e tentando iludir leigos e
desletrados...Afinal, é fácil induzir uma população que tem preguiça de ler, de
se informar, de buscar soluções para os seus problemas cotidianos e que cerca
de 30% é considerado analfabeto funcional, ou seja, lêem, mas não entendem.
Não
vejo nenhum artista desses deixar seu luxuoso apartamento ou sua confortável
mansão a beira-mar para morar em uma “taverna” ecológica no meio do mato. Não vejo
esses seres ambientalistas e corretamente ecológicos, abrirem mão de um carro
da última geração e viajar por aí como nos tempos antigos, de carroças, de
bicicleta, à cavalo ou mesmo à pé. Só vejo artistas com roupas de grife, sempre
renovando seus armários para andar na moda...e a quantidade de algodão e de
linho que tem sido plantado para a confecção dessas roupas? Quantos animais são
mortos para retirada de lã e couro para confecção de roupas, sapatos e bolsas? E
os litros de água que são gastos desde o processamento dessas matérias-primas
até a confecção final de tais produtos? E o combustível que é gasto desde a
colheita das matérias-primas no campo até o transporte das roupas, sapatos e
bolsas para as lojas? E o alimento que consomem, será que são advindos de uma
fazendinha agroecológica ou de alguma produção orgânica? Os móveis dessas
pessoas são aqueles compensados ecológicos, materiais alternativos e
recicláveis ou são confeccionados com madeiras nobres, como mogno, cedro,
sucupira e tantas outras? São tantas perguntas, que se pararmos para pensar,
somos todos semeadores de ideias que não são cultivadas.
As
Organizações Não Governamentais (ONG’s) ambientalistas que me desculpem, mas
tenho visto cada “lorota” que chega a arrepiar. É incrível como o mundo é feito
de pessoas que não tem um mínimo de bom senso. É claro que não se pode
genaralizar, pois, existem muitas ONG’s que procuram fazer um trabalho sério,
sem devaneios, manipulações e radicalismos extremistas. Fala-se muito na
construção de cidades sustentáveis, mas a realidade não é muito fácil, pois,
tal construção depende da integração política, social e mental.
As
cidades brasileiras, na sua grande maioria, não foram planejadas. Construímos
sociedades cada vez mais desorganizadas, sem planejamento e sem estrutura
adequada. É preciso repensar o modo como as cidades estão se desenvolvendo. A
reestruturação do modelo de sociedade deve estar pautada nos três pilares que
citei no parágrafo anterior. O pilar da política deve estabelecer legislações
rigorosas e efetivas para implementar ações que visem a melhoria da qualidade
do solo, da água e do ar nos ambientes urbanos. Criar programas de
conscientização da população e promover ações de recuperação de ambientes
degradados pela ocupação antrópica desordenada, minimizar os impactos
sócio-ambientais causados por antigos e novos empreendimentos urbanos, entre
outras ações.
O pilar social
está relacionado com a contribuição que a sociedade pode oferecer de forma
coletiva para a melhoria do ambiente urbano, como a elaboração de projetos executados
por cidadãos voluntários, por entidades como Rotary International, Lions Clube
do Brasil, Movimentos Pastorais, Instituições de Ensino Públicas e Privadas,
etc. A sociedade deve ser a grande promotora da mudança do perfil ambiental e
ecológico de uma determinada cidade, portanto, o terceiro pilar que é a
integração mental se refere a mudança de mentalidade da população. É preciso
que as pessoas sejam mais conscientes de suas ações. Uma pequena ação como
guardar um papel de bala para jogar fora em casa ou quando encontrar uma
lixeira disponível, em vez de jogá-lo na rua, já é uma atitude consciente e
racional de nossa parte. Entretanto, a mentalidade é tão arcaica que o cidadão
pensa “Ah! Não adianta eu guardar esse papel para jogar na lixeira, afinal, há
tantos papéis jogados na rua, não será a minha ação que fará a diferença!”. É aí
que você se engana! É por todos pensarem deste modo, que as nossas cidades estão
ficando cada dia mais poluídas. A ação tem que partir de alguém. Porque não
começar a partir de hoje? Seu bolso não vai pesar mais, se guardar um
papelzinho para descartar no lugar adequado.
As nossas
cidades estão cada vez mais pobres em paisagismo e arborização. É raro
encontrar uma área verde que tenha sido planejada ou que tenha sido implantada
e tem a sua manutenção nos dias de hoje. A arborização de uma cidade é
importantíssima, pois, as árvores interceptam, refletem, absorvem e transmitem
a radiação solar, reduzindo as temperaturas do ambiente urbano. Além disso,
ainda são responsáveis por absorver parte do carbono liberado na atmosfera pela
queima de combustíveis fosseis e liberação de fumaça das indústrias, dando mais
pureza ao ar que respiramos. As cidades sem arborização, tendem a ser mais
quentes, principalmente quando são completamente asfaltadas.
No verão, quando
visitei minha cidade natal, Bambuí, localizada a aproximadamente 260 km de Belo Horizonte, no
Centro Oeste de Minas Gerais, observei o quanto a cidade estava “pelada” e como
as temperaturas se elevaram. A maioria das pessoas com as quais conversei
ressaltaram dizendo que “Bambuí nunca esteve tão quente como agora!”. As árvores
plantadas nas ruas das cidades foram praticamente extintas, como pode ser
observado nas fotos desse artigo. A cidade se desenvolveu, novos bairros
surgiram, todos asfaltados e com uma infraestrutura invejável. Graças a
legislação da cidade que exige que novos loteamentos sejam entregues com
iluminação, saneamento básico, asfaltamento e espaço de área verde e lazer. Esse
é um ponto muito positivo, que deixou-me bastante feliz. A cidade tem sido
completamente asfaltada, o que favorece o aquecimento local, devido ao calor
que a manta asfaltica consegue reter ao longo do dia. O paisagismo da cidade
também tem melhorado bastante, uma vez que as pracinhas foram reformadas e estão
sendo cuidadas, tanto pelo poder público quanto pela população. A mentalidade
das pessoas também parece ter evoluído, visto que as ruas da cidade
encontram-se bem mais limpas.
A cidade de
Bambuí ainda está carente de projetos de arborização das suas ruas e da
implantação das áreas verdes dos novos bairros. O espaço destinado a essas áreas
verdes estão sendo reservados, mais ainda não há nada implantado. Em relação as
árvores antigas, estas devem ser apenas podadas, quando necessário, pela
administração pública e serem cortadas apenas se oferecer algum risco de queda
ou de dano a residências. É necessário que as árvores sejam preservadas e que
os espaços destinados a área verdes sejam cultivados e mantidos com a ajuda da
população. Esse é um passo fundamental para transformar nossa cidade
convencional em uma cidade mais sustentável, com um clima mais agradável para
viver e com solo, água e ar de qualidade. Utilizei a cidade de Bambuí, como
exemplo, porque tenho acompanhado o desenvolvimento e as mudanças agrícolas e
climáticas dessa região. Vejo que diversas outras cidades tem o mesmo problema,
já passei por outras cidades onde é possível andar quilômetros sem ver uma árvore
na rua. A arborização de uma cidade é essencial, tanto pelo aspecto climático,
como pelo aspecto paisagístico local. A cidade fica mais bela, mais vigorosa,
mais cheia de vida e nos apresenta um mosaico de cores quando chega a
Primavera. Não cortar as árvores que existem no perímetro
urbano, sem necessidade, já é uma grande ação para quem quer viver em uma cidade mais sustentável.