As cultivares
de milho dotadas de tecnologia Bt – materiais geneticamente modificados que
conferem a produção de proteínas tóxicas para algumas espécies de lagartas e
outros insetos – vem perdendo eficiência nos últimos anos no Brasil. É o que
alertam os pesquisadores da Fundação de Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso
(Fundação MT) Rafael Zeni e Lucia Vivan. A atual segunda safra do grão tem
comprovado os resultados obtidos nas pesquisas desenvolvidas ao longo dos
últimos anos.
– No campo o
que se tornou bastante comum é a utilização de várias aplicações de
inseticidas, a fim de conter a pressão de pragas no milho transgênico. A
situação é mais frequente em tecnologias com maior tempo de utilização e que
apresentam a expressão de apenas uma proteína Bt – explica Zeni.
A tecnologia
Bt foi criada em 1997 nos Estados Unidos e há pouco mais de seis anos foi
liberada para uso comercial no Brasil. Desde então, passou a ser utilizada em
larga escala, acarretando a atual situação das lavouras. Isso porque,
naturalmente, estes genes de resistência do milho Bt estão presentes nos
insetos, em frequências bastante pequenas, conforme esclarece a entomologista.
– A partir do
momento que trabalhamos com a tecnologia mais intensamente, iniciamos uma forte
pressão de seleção destes genes de resistência, fazendo com que as populações
de insetos resistentes aumentem.
Outro ponto
importante que pode contribuir para a perda de eficiência da tecnologia Bt é a
ausência de refúgios estruturados nas áreas de plantio.
– A utilização
do refúgio estruturado continua sendo uma estratégia fundamental para prolongar
a vida útil da biotecnologia. Algumas instituições e pesquisadores defendem a
necessidade em aumentar o tamanho da área, a fim de garantir a multiplicação
suficiente de insetos suscetíveis e a sua reprodução. A definição do tamanho
atualmente está em reavaliação e o governo federal vem trabalhando na criação
de leis que obriguem o cumprimento das exigências – aponta Zeni.
No refúgio é
importante fazer o plantio de milho convencional com distância máxima de 800 metros do milho Bt.
Assim, há o encontro das mariposas resistentes com as suscetíveis a tecnologia,
evitando assim a evolução da resistência, destaca Vivan.
– Há várias
formas de se fazer esse plantio, em faixas alternadas, nas bordaduras, em
blocos maiores ou menores. O produtor deve adotar o desenho que melhor se
adapte à sua situação.
Os
pesquisadores orientam também com relação ao manejo do milho Bt.
– É preciso
entender que a transgenia é mais uma ferramenta a ser inserida no Manejo
Integrado de Pragas (MIP) e que não pode ser encarada como a solução para todos
os problemas. É importante que o produtor realize o monitoramento a campo
periodicamente e acompanhe a evolução dos índices das pragas ao longo do ciclo
– orienta a entomologista. Ela ainda
lembra que em casos de escape de pragas, a intervenção com outras medidas de
controle, como defensivos, precisa ser adotada nos estágios e doses
recomendadas, com tecnologia de aplicação adequada para a condição.
Lagarta do cartucho
A lagarta do
cartucho é a praga que mais preocupa a classe produtora de milho no cerrado
brasileiro. Mesmo havendo um complexo de pragas que atacam a cultura, inclusive
do gênero helicoverpa, a Spodoptera
frugiperda ainda representa as maiores perdas.
– Sua presença
pode ocorrer desde os estágios iniciais, podendo ter hábito de rosca e
comprometer estande de plantas; durante o período vegetativo, com danos
expressivos nas folhas [cartucho]; e no período reprodutivo, pelo seu ataque
nas espigas, ocasionando danos diretos a produção, além de promover porta de
entrada para patógenos e outras pragas – detalha a entomologista da Fundação
MT.
No milho
convencional os danos são variáveis em função da fase de desenvolvimento em que
a planta sofre o ataque, oscilando entre 17%, nos primeiros estádios, a 34% nos
últimos de desenvolvimento vegetativo. Como hoje algumas tecnologias são
atacadas como plantas convencionais, as perdas podem ser similares se não for
realizado o controle.
Para os
próximos anos, a classe produtora de milho pode esperar por parte das empresas
o lançamento no Brasil de novos eventos biotecnológicos. De acordo com Zeni,
eles devem contemplar dentre outros, genes para tolerância a estresse
ambiental, maior eficiência na utilização de nutrientes, maior teor nutricional
no grão e alta produtividade.
– No que diz
respeito à tecnologia Bt, em curto prazo não devemos ter grandes novidades de
genes e proteínas, mas sim novos eventos a partir da combinação de genes já
utilizados (piramidação) – destaca o pesquisador da Fundação MT.
A piramidação
é a junção de dois ou mais genes, que produzem toxinas com diferentes
mecanismos de ação, em um único indivíduo.
– Esta
combinação aumenta a durabilidade da eficiência da tecnologia, uma vez que
reduz o risco de eventuais quebras de resistência das pragas alvo – finaliza.
FONTE: Fundação
MT