O Brasil, no
acumulado do primeiro semestre teve um déficit na balança de pagamentos de US$
2,49 bilhões. Se não fosse o agronegócio, esse déficit seria de US$ 43,3
bilhões, e a situação do país estaria insustentável. O agronegócio foi
responsável por uma venda de US$ 49,1 bilhões, gerando um saldo positivo na sua
conta de US$ 40,8 bilhões.
Neste ano, no
cenário econômico do país, só nos resta rezar e esperar por uma venda na casa
dos US$ 100 bilhões no agronegócio para termos alguma chance de terminar o ano
com alguns trocados positivos no caixa. O capitão de indústria, Antonio Ermirio
de Morais, dizia que a força brasileira e que deveria puxar sempre o
crescimento é o agronegócio. Ele afirmava termos as condições e os talentos, ou
seja, fatores críticos de sucesso mais prontos. E que a indústria seguiria a
reboque.
Para
compreendermos essa posição, precisamos nos despir dos conceitos antigos, de
associarmos esse novo agronegócio a simplesmente “commodities”. Hoje o balanço
de pagamentos do país tem 50,4% conectados ao que classicamente chamamos de
produtos básicos, a maior participação desde 1978. Mas a tecnologia envolvida
nesse tal de produtos básicos mudou extraordinariamente e mesmo na mineração,
aspectos de segurança, logística, automação, diferenciação de matérias-primas,
acesso a mercados e inteligência de gestão mudaram espetacularmente.
O agronegócio,
o responsável pelo único êxito no acerto das contas do país, até agora, revela
um contexto de tecnologia, índices de produtividade ascendentes, educação,
formação e espírito guerreiro do setor que combate com estruturas de logística,
impostos riscos e custos, os quais não controlam, mas que tem superado e
vencido.
Se estamos
tendo uma diminuição dos preços dos grãos, neste momento, por uma previsão de
super safras de soja e milho, no mundo, falamos ainda de uma saca de 60 kg de soja em torno de R$ 55 a R$ 60, o que é sim o
menor preço dos últimos quatro anos, porém, bem acima dos patamares clássicos
históricos, o que permite aos agricultores, aqueles que realizam uma competente
gestão, estarem ainda com lucro, mesmo com os preocupantes custos
incontroláveis crescendo. Por outro
lado, no reino da proteína animal estamos vivendo um momento único na história
da produção e das vendas.
No primeiro
semestre deste ano o Brasil aumentou a receita com exportações na carne bovina,
comparado ao mesmo período do ano passado, em 15% Hong Kong, Rússia, Venezuela,
União Europeia e Egito, nossos maiores clientes, onde Hong Kong, leia-se
distribuição e capilarização para a China que agora abre o mercado chinês para
vendas diretas brasileiras. A suinocultura teve preços ascendentes e demanda
maior, tanto interna quanto externa, e a avicultura opera com expectativas de
crescimento no segundo semestre deste ano.
As recentes
confusões geopolíticas envolvendo a Rússia, abriu mercados para o Brasil, e, no
mês de junho a Rússia foi o nosso cliente que mais cresceu. A Venezuela, da
mesma forma, numa crise agroalimentar, veio na segunda posição. E a China, com
um consumo per capita de carne vermelha de apenas 6kg/ano, e com a necessidade
de transferir cerca de 400 milhões de habitantes do campo para a cidade nos
próximos 30 anos, revela necessidades seguras de oferta de alimentos mais
nobres.
Importante
ainda comentar sobre o mercado halal, os consumidores muçulmanos, cerca de 2,2
bilhões de pessoas, onde o Egito, Irã, Argélia figuram como os três maiores
destinos da carne brasileira. Essa agrodependência, se for tratada com respeito
e num contexto de agrossociedade com todos os elementos que a compõem no antes,
dentro, pós-porteira das fazendas e no além do pós-porteira, incluindo
serviços, turismo, nichos, especialidades e a alta tecnologia embutida, com
educação sofisticada, representa uma vocação legítima e verdadeira do Brasil no
cinturão tropical planetário.
O povo
brasileiro, eleitores das grandes cidades pesquisados pela Abag/ESPM neste ano,
considerou numa proporção maior do que 90% que o agronegócio é muito importante
para o Brasil, e ainda é o grande gerador de empregos, mesmo nas cidades. A voz
do povo é a voz de Deus, quando perguntados livre e corretamente a respeito dos
importantes valores das suas vidas.
Essa nova
consciência precisa vir forte e clara, não apenas nos papéis bem intencionados
dos presidenciáveis, mas como um foco a ser bem tratado, pois, a partir dele,
puxaremos o resto dos setores. As associações da agrodependência, formatados
com preconceito e menosprezo, não ajudarão em nada ao próprio agronegócio, e
principalmente a todos os demais setores da indústria, comércio e serviços
brasileiros.
O mundo mudou
e não se extraem mais produtos básicos como antigamente. Isso agora chama alta
tecnologia, logística, educação e formação, marketing e gestão sofisticada. E
que, acima de tudo, o governo ajude e não atrapalhe, como no caso do
biocombustível.
FONTE: SouAgro - José Luiz Tejon Megido, Diretor Vice Presidente de
Comunicação do Conselho Cientifico para a Agricultura Sustentável (CCAS),
Dirige o núcleo de agronegócio da ESPM, Comentarista da rádio ESTADÃO.