Produtores de
sementes e defensivos como Basf, DuPont, Bayer e Monsanto estão fazendo
investimentos pesados no desenvolvimento de novos produtos que incorporam
microrganismos como bactérias e fungos. Segundo os executivos dessas empresas,
os novos produtos podem ajudar as plantas de milho, soja e outras culturas a
afastar pragas e crescer mais rapidamente.
Brian Vande
Berg, diretor de pesquisa e desenvolvimento da Bayer CropScience, faz parte de
um grupo crescente de pesquisadores que está explorando lugares remotos dos
Estados Unidos em busca de microrganismos. As empresas pretendem revestir as
sementes com esses organismos e, em outros casos, pulverizá-los em plantas em
desenvolvimento.
Empresas
agrícolas estão buscando se diversificar para além de defensivos químicos
sintéticos, em meio à vigilância cada vez mais intensa de órgãos reguladores e
de consumidores. Produtos à base de microrganismos podem fazer muitas coisas
que a química sintética faz, disse Paul Schickler, presidente da Pioneer,
unidade de sementes da DuPont.
Fabricantes de
defensivos estão entrando no segmento através de uma série de negócios. Em 2012, a Basf pagou US$ 1
bilhão pela Becker Underwood, uma empresa de Iowa especializada em biodefensivos. A Bayer
pagou cerca de US$500 milhões naquele ano para uma empresa semelhante chamada
AgraQuest.
A DuPont disse
em agosto que está construindo dois novos centros de pesquisa nos Estados
Unidos que ajudarão a desenvolver esses produtos. Já a Monsanto disse que
pretende triplicar suas pesquisas no segmento em 2015. No ano passado, a
Monsanto fechou uma parceria com a dinamarquesa Novozymes, pagando US$ 300
milhões à companhia para poder usar sua tecnologia e vender microrganismos
desenvolvidos em conjunto.
Microrganismos
vêm sendo usados há décadas na agricultura, mas em pequena escala,
principalmente como revestimento de soja e outras leguminosas para absorver
melhor os nutrientes e combater fungos. Agora, as empresas dizem que os avanços
tecnológicos permitem o desenvolvimento de microrganismos com funções muito
mais amplas, como a proteger as lavouras contra mais doenças e pragas ou
mitigar os efeitos da seca.
– Os
diagnósticos de DNA atuais oferecem um nível de compreensão que você não tinha
há cinco ou 10 anos – disse Robert Fraley, diretor de tecnologia da Monsanto.
A Monsanto e
outras empresas do setor vendem há quase 20 anos sementes geneticamente
modificadas, que produzem proteínas que matam insetos ou suportam os defensivos
que as empresas também vendem. A nova abordagem é diferente, e consiste em
estimular organismos microscópicos, como bactérias e fungos, a viver na
superfície das plantas, ajudando-as a absorver nutrientes e fornecendo defesas
contra insetos e doenças.
Produtos à
base de microrganismos ainda enfrentam o ceticismo de alguns ambientalistas.
Mas, como não dependem de engenharia genética ou produtos químicos sintéticos,
podem ser utilizados na produção de alimentos orgânicos e naturais. De acordo
com regras do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) produtos orgânicos não
podem conter organismos geneticamente modificados, ou transgênicos, mas o uso
de bactérias que ocorrem naturalmente é permitido.
Defensivos
biológicos, incluindo produtos à base de bactérias, têm vendas anuais de
aproximadamente US$ 2 bilhões, ou 4% dos US$ 54 bilhões em vendas globais de
defensivos químicos, de acordo com estimativas da indústria. Porém, esse número
pode subir para US$ 5 bilhões até o final da década, de acordo com o analista
Michael Cox, da Piper Jaffray.
Encontrar
microrganismos benéficos, no entanto, é como procurar uma agulha em um
palheiro. Na Bayer, um microrganismo promissor que mata lagartas veio de uma
amostra colhida no quintal de um funcionário na Carolina do Norte. Vande Berg
disse não ter certeza de que alguma das amostras de solo coletadas por ele há
quatro anos, na Flórida, tenha rendido um microrganismo inovador.
FONTE: Estadão Conteúdo