O agronegócio encerrou 2014 com resultados abaixo do que se
esperava. Cálculos do Centro de Estudos Avançados em Economia
Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, com apoio da Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), mostram que a expansão no
ano foi de 1,59%, significativa frente aos resultados que devem ser
divulgados para a economia como um todo, mas bem abaixo dos 5,22%
estimados para o agronegócio em 2013. A preços reais, o PIB do
agronegócio foi de R$ 1.178,87 milhões (1 trilhão, 178 bilhões e
870 milhões de reais).
Pesquisadores do Cepea
explicam que as expectativas de maior crescimento foram frustradas
pela sucessão de resultados negativos no ramo formado pelas cadeias
produtivas baseadas na agricultura ao longo do segundo
semestre. O único segmento deste setor que acumulou modesto
crescimento, de 0,15%, foi o primário ou “dentro da porteira”,
impulsionado pelo aumento de 3% do volume de produção, uma vez que,
os preços recuaram 2,23% na comparação com 2013. É justamente na
diminuição dos preços de culturas como soja, milho, trigo, cana e
algodão que se encontra a explicação para a queda de 0,75%
faturamento da agricultura como um todo (compreendendo os segmentos
de insumos, primário, processamento e de serviços). A preços
reais, o PIB do ramo agrícola em 2014 foi de R$ 800,57 bilhões,
contra R$ 806,59 bilhões em 2013.
Em
situação bem diferente, a pecuária se manteve em ritmo
firme, com expansão sucessiva de todos os seus segmentos. O
crescimento do PIB do segmento primário chegou a 8,33%, motivado em
especial pelo aumento dos preços. Somente a avicultura teve preços
médios inferiores aos de 2013, mas contou com algum crescimento do
volume produzido. No ano, o PIB do ramo pecuário (abrangendo os
segmentos de insumos, primário, industrial e de serviços) chegou a
R$ 378,30 bilhões, avanço de 6,9% diante dos R$ 353,84 bilhões do
ano anterior.
Com variações mensais negativas e/ou pouco
expressivas, a agroindústria nacional (abrangendo a indústria de
processamento dos ramos pecuário e agrícola) acumulou baixa de
0,32%
em 2014. Conforme pesquisadores do Cepea, esse resultado ruim
refletiu o desempenho das atividades de processamento vegetal
(-0,96%), já que, para a indústria da pecuária, o cenário foi
bastante favorável (+3,88%). No caso da agroindústria agrícola,
das dez atividades acompanhadas, apenas três acumularam alta no ano:
celulose, papel e gráfica, etanol e café. Para as demais, recuos de
preços e/ou produção pesaram sobre o faturamento no período,
sendo que as indústrias de óleos vegetais e açucareira
apresentaram os piores resultados. Na indústria de base pecuária, a
significativa valorização das carnes bovina e suína favoreceu o
bom desempenho do segmento.
A equipe Cepea lembra que o contexto macroeconômico de 2014 foi
marcado por inflação em alta e baixo crescimento econômico. As
expectativas de movimentação monetária em relação à Copa do
Mundo não se confirmaram e, no segundo semestre, as incertezas se
acentuaram, requerendo constantes revisões para baixo das
expectativas de crescimento do PIB. A perda de confiança foi
marcante em todos os setores, comentam os pesquisadores.
Na avaliação do professor Geraldo Barros,
coordenador do Cepea e responsável pelos cálculos do PIB do
Agronegócio Cepea/CNA, “os desafios que o País enfrentará em
2015 vão se mostrando maiores do que se imaginava até pouco tempo
atrás, e o agronegócio pode ser o grande condicionante do
desempenho da economia brasileira. Representando 23% do PIB nacional,
ele pode ser o único setor com crescimento mais expressivo diante da
indústria claudicante e dos serviços em processo de exaustão.”
No dia 27 de março, o IBGE deve divulgar nova série do PIB
brasileiro e, com isso, deve ser alterada a participação do
agronegócio.
FONTE: CEPEA/ESALQ