Os solos que cultivamos
A Fundação da Organização das Nações Unidas para
Alimentação (FAO) atribui uma temática anual para reflexão e debate mundial
acerca de determinados assuntos de importância global. Portanto, o ano de 2015
foi rotulado por essa instituição como o “Ano Internacional dos Solos” e o lema
é “Solos saudáveis para uma agricultura saudável”. Para conhecer mais sobre essa
temática, as propostas da FAO, os eventos que serão realizados sobre esse
assunto pelo mundo e obter outras informações, acesse www.brasilagricola.com.
O
ano passado foi considerado o “Ano Internacional da Agricultura Familiar”.
Acredito que esses dois assuntos tornaram-se bastante integrados,
principalmente pela oportunidade de serem tratados de maneira consecutiva pelas
comunidades científicas e acadêmicas. A importância dos solos deve ser
discutida em todos os modelos agrícolas, seja na agricultura empresarial de
larga escala ou pela agricultura familiar. Em vídeo publicado na rede, pela
Global Soil Partnership - Organização das Nações Unidas, em comemoração ao Dia
Mundial do Solo, celebrado em 05 de dezembro de 2014 são apresentados alguns
dados interessantes. O solo hospeda um quarto da biodiversidade do planeta; 2
hectares de solo são impermeabilizados pelo crescimento urbano, a cada minuto,
em nível mundial; práticas agrícolas inadequadas, desmatamento, poluição e
superpastoreio deixam o solo descoberto, contaminado e degradado.
O
referido vídeo nos convida a refletir e debater sobre o assunto, destacando ao
final que 2015 seria um ano dedicado aos solos. Pense em toda a biodiversidade
que existe no planeta, quantas espécies de microrganismos, animais e vegetais
existem na natureza? Além do mais, quantas espécies que sequer conhecemos?
Imagine que o solo é habitat de 25 % de toda a diversidade biológica do planeta
terra, é a casa de milhões de microrganismos das mais variadas espécies, abriga
seres como minhocas, formigas, cupins, larvas de diversos tipos de insetos,
aranhas, répteis, líquens, musgos, espécies vegetais rasteiras, arbóreas, de
grande porte, etc. Ao pensarmos desse modo, podemos caracterizar o solo como um
corpo vivo, até porque um dos fatores ligados ao intemperismo e gênese dos
solos é a atividade biológica.
O
crescimento populacional tem pressionado nossos solos, não só pela demanda da
produção de alimentos que deve se elevar a longo prazo, mas também devido a
expansão dos centros urbanos, como vimos anteriormente. Enquanto você lê essa
frase, cerca de 1333 m² foram impermeabilizados no mundo, devido ao crescimento
dos centros urbanos. Imagine quantos solos produtivos estão debaixo do asfalto
de grandes cidades como Belo Horizonte e São Paulo? A degradação e a poluição
acontece debaixo das nossas narinas e nós preferimos simplesmente ignorar o que
acontece nas cidades e culpar os produtores rurais por todas as catástrofes e
mazelas ambientais. Então eu te questiono: o que dizer dos nossos aterros
sanitários ou famosos “lixões” espalhados pelo país? Para onde vai os esgotos
domésticos e resíduos industriais que são produzidos em nossas cidades? Será
que estão sendo todos tratados adequadamente? Onde estão as áreas verdes de
preservação ambiental de nossas cidades?
O
Brasil apresenta pouco mais de 50 % de seu território coberto pelos Latossolos,
que é uma classe de solos muito intemperizados, com perfil profundo, boa
drenagem, distribuição adequada de macro e microporos, agregados estáveis e
pobre em nutrientes. Esse tipo de solo, com uma correção adequada de
fertilidade, é considerado um dos solos mais produtivos, além de ser ideal para
o cultivo de plantas perenes que demandem um desenvolvimento radicular em
profundidade para atingir as máximas produtividades, como no caso do cafeeiro,
citros, espécies florestais nativas e exóticas, entre outras. Grande parte da
nossa produção de grãos (milho, soja, feijão e trigo) e biocombustível
(cana-de-açúcar, girassol e mamona) também está distribuída sobre esse tipo de
solo. Em contrapartida, existem solos considerados “jovens” que são muito
rasos, podem apresentar pedregosidade, afloramentos de rocha, baixa
permeabilidade, pouca atividade biológica e baixa fertilidade. Nesse tipo de
solo, a agricultura é limitada em razão das suas características,
principalmente físicas. No entanto, o que devemos levar em consideração é que
não existe solo improdutivo ou inútil para a agricultura, é preciso avaliar
adequadamente a aptidão de cada tipo de solo.
Além
disso, nossos solos funcionam como importantes reservatórios de água. Em tempos
de escassez de chuvas, como o que estamos vivendo atualmente, a conservação dos
solos agrícolas torna-se ainda mais relevante para a preservação dos recursos
hídricos. A constante busca pela sustentabilidade não poderá ser alcançada se
não cuidarmos adequadamente do bem mais precioso que temos na agricultura: os
diferentes tipos de solos que existem no mundo. Cada qual tem a sua
particularidade, seus limites e potenciais. Cabe a nós, saber utilizar esse
recurso natural racionalmente.