Agronegócio versus Agroecologia
A
agroecologia pode alimentar o mundo? O agronegócio pode alimentar o
mundo? Essa é uma questão central quando entramos em um debate que
confronta dois modelos de produção amplamente distintos como o
agronegócio e a agroecologia. Confesso que fiquei meio chateado ao
colocar o “versus” no título desse artigo, pois, estamos
causando um confronto de ideologias dentro da nossa agricultura e uma
desunião em torno do mesmo objetivo que é a produção de
alimentos. Será que algum dia poderei redigir um artigo dessa
natureza com o nome de Agronegócio Ecológico? A única coisa que
posso garantir é que não existe modelo ideal de produção!
Todos os
modelos de produção agrícola tem as suas vantagens e desvantagens.
O Agronegócio, como o próprio nome se refere tem por finalidade
desenvolver atividades agropecuárias com um perfil de empreendimento
rural, onde são cultivadas extensas áreas de uma mesma cultura
agrícola, pastagens ou espécies florestais. Nesse modelo de
agricultura são adotadas as tecnologias advindas da “revolução
verde” que está pautada na utilização dos fertilizantes
químicos, defensivos agrícolas para o controle de pragas, doenças
e plantas infestantes nos campos de cultivo, uso de sementes
geneticamente melhoradas, uso de sementes transgênicas e as
tecnologias de mecanização dos processos produtivos como correção
do solo, adubação, plantio, pulverizações e colheita.
Do outro
lado, a agroecologia prega uma agricultura que pode ser realizada em
harmonia com a natureza e visando a segurança alimentar. Nesse
modelo de produção agrícola utiliza-se o mínimo de insumos
externos à propriedade rural, utilizando controles alternativos de
pragas e doenças, métodos integrados de controle de plantas
daninhas e a fabricação de fertilizantes orgânicos e/ou
organominerais para a adubação de culturas agrícolas. Um dos
principais conceitos da agroecologia é a busca pela diversidade de
produção em uma mesma área por meio de sistemas de plantio
agroflorestais, plantios integrados, rotação e interação de
culturas. Além disso, há uma busca pela produção da própria
semente por meio da manutenção de sementes crioulas e/ou sementes
de variedades produtivas adaptadas a realidade de cada região.
Entendo
que existe espaço para os diversos modelos de agricultura e que não
existe um ideal para alimentar o mundo, o que deve existir é a busca
permanente pela sustentabilidade da produção agrícola e o que não
deve existir são os extremismos. A agroecologia é um ótimo modelo
para trabalhar a agricultura em sítios, chácaras, pequenas e médias
propriedades, onde é possível trabalhar com a mão de obra familiar
e há pouca oportunidade de mecanização. A palavra “trabalho” é
fundamental para quem deseja trilhar os caminhos da agroecologia.
Esse modelo de agricultura exige muita mão de obra, criatividade e
conhecimento da natureza para utilizá-la em seu benefício.
A
agroecologia nunca substituirá as extensas lavouras de soja e milho
do cerrado brasileiro, do mesmo modo que os empresários rurais ainda
não estão interessados em áreas onde há restrições para o
desenvolvimento da agricultura de larga escala. O empresário rural
certamente não trocará seu bom e velho trator com GPS e
ar-condicionado para puxar um arado com tração animal, não deixará
de utilizar a semente de última geração para produzir a própria
semente crioula. Sempre existirá muitos argumentos de ambos os lados
para tentar convencer que um ou outro modelo é a “salvação da
lavoura”. Os modelos agrícolas devem ser complementares, é
preciso nos unir em prol de um desenvolvimento agrícola sustentável
de verdade e não apenas ideológico.