Cristiane
Betemps¹
A deficiência
de micronutrientes como ferro e zinco e de vitamina A constituem sérios
problemas de saúde pública nos países em desenvolvimento. Estudos
apontam a anemia como um dos mais importantes problemas nutricionais no Brasil.
Como forma de melhorar a dieta dos brasileiros, especialmente os mais carentes,
surgiu o projeto BioFort, que está em desenvolvimento há mais de dez anos. Este
programa é responsável pela biofortificação de alimentos no Brasil, coordenado
pela Embrapa, a qual inclui 14 unidades de pesquisa em toda a nação, que
trabalham com foco no melhoramento genético convencional de alimentos básicos
na dieta da população como arroz, feijão, feijão caupi, mandioca, batata-doce,
milho, abóbora e trigo.
O projeto tem como objetivo primeiro diminuir
a desnutrição e garantir maior segurança alimentar através do aumento dos
teores de ferro, zinco e vitamina A na dieta da população mais carente. O
processo de biofortificação é feito com o cruzamento de plantas da mesma
espécie, gerando cultivares mais nutritivas, ou conhecido, como melhoramento
genético convencional. Inclusive, o projeto ao longo do tempo, formou uma rede
de pesquisadores no Brasil e no exterior, que estão investindo em conhecimento
técnico-científico da agronomia e da saúde e estão obtendo alimentos mais
nutritivos.
Como é desenvolvido o BioFort
A essência do
projeto é enriquecer alimentos que já fazem parte da dieta da população para
que esta possa ter acesso a produtos mais nutritivos e que não exijam mudanças
de seus hábitos de consumo. No campo, as cultivares são selecionadas e as mais
promissoras seguem para a etapa de melhoramento. Nessa etapa, o objetivo é a
obtenção de cultivares mais nutritivas, que também apresentem boas qualidades
agronômicas (produtividade, resistência à seca, pragas e doenças), além de boa
aceitação de mercado. Ao mesmo tempo, nos laboratórios da Embrapa e das
universidades vinculadas ao projeto, estão sendo iniciados os estudos sobre
biodisponibilidade para estimar se o organismo humano consegue absorver os
micronutrientes presentes nas cultivares melhoradas.
Com o aval dos Comitês de Ética das
universidades, os pesquisadores estão avaliando a aceitação aos alimentos mais
nutritivos, como em Sergipe, onde mandioca, batata-doce e feijão-caupi já estão
sendo testados na merenda escolar. Outras equipes do projeto buscam desenvolver
produtos agroindustriais a partir de matérias-primas biofortificadas como a
formulação de farinhas de batata-doce para elaboração de produtos com maior
valor agregado (pães, snacks e farinhas pré-cozidas para sopas instantâneas e
mingaus), que ampliam a oferta de alimentos mais nutritivos.
Outra etapa igualmente importante é o
desenvolvimento de soluções tecnológicas para a conservaçao dos
micronutrientes. Por isso, através de parcerias, o BioFort trabalha no
desenvolvimento de embalagens para, principalmente, garantir a conservação dos
micronutrientes nos produtos processados.
Todo esse esforço ganha visibilidade com as
ações de comunicação e sensibilização dos públicos de interesse do projeto. A
equipe do projeto promove com frequência eventos como palestras, seminários e
dias de campo para produtores rurais, empresários e pesquisadores.
O projeto se preocupa, ainda, com todo
processo de alimentação do cidadão, desde o momento em que o alimento é
produzido até a mesa do consumidor. Por isso, os pesquisadores se preocupam
durante o desenvolvimento do projeto em considerar e analisar a receptividade
dos produtores nas comunidades rurais em relação as novas cultivares. É importante
que as novas cultivares, além dos ganhos nutricionais também apresentem
vantagens agronômicas e comerciais. Já o consumidor é outro elemento importante
no processo e é indispensável a sua aceitação aos alimentos biofortificados.
O que é desenvolvido com biofortificação
Vários estados
brasileiros já estão desenvolvendo biofortificação em vários alimentos básicos.
Veja como o projeto BioFort está presente nestes locais:
* Maranhão: Multiplicação de
cultivares de feijão, arroz, feijão-caupi e batata-doce em assentamentos
rurais.
* Piauí: Seleção, melhoramento
genético e multiplicação de cultivares de feijão-caupi.
* Pernambuco: Multiplicação de
cultivares de feijão, feijão-caupi e abóbora.
* Sergipe: Multiplicação de
cultivares de feijão, feijão-caupi, mandioca, batata-doce e milho, seleção e
melhoramento genético de cultivares locais de abóbora, avaliação de resultados
na merenda escolar.
* Bahia: Seleção, melhoramento e
multiplicação de cultivares de mandioca.
* Distrito Federal: Seleção,
melhoramento e multiplicação de batata-doce e trigo.
* Goiás: Seleção, melhoramento
genético e multiplicação de cultivares de arroz e feijão.
* Minas Gerais: Multiplicação de
cultivares de mandioca, milho, batata-doce, arroz e feijão em escolas técnicas
de agricultura e capacitação de produtores e técnicos por meio de cursos,
seminários e dias de campo.
* Rio de Janeiro: Multiplicação
de cultivares de arroz, milho, feijão, mandioca, batata-doce, abóbora e
feijão-caupi.
* Paraná: Multiplicação de
cultivares de milho, trigo e mandioca.
* Rio Grande do Sul: Seleção e
melhoramento genético de cultivares de trigo.
Parceiros
O BioFort tem
um desafio de combater a fome oculta que debilita mais de dois bilhões de
pessoas em todo o mundo. Mas, as parcerias com instituições públicas e privadas
tem permitido que as novas cultivares cheguem às comunidades rurais e urbanas
mais carentes. E o Brasil tem se destacado num aspecto diferenciado dos demais
países no desenvolvimento de biofortificação. O país é o único onde são
conduzidos, ao mesmo tempo, trabalhos com oito culturas diferentes: abóbora,
arroz, batata-doce, feijão, feijão-caupi, mandioca, milho e trigo.
A Embrapa Agroindústria de Alimentos,
localizada no Rio de Janeiro, é uma das unidades da Embrapa e lidera o projeto
BioFort, que faz parte da Rede de Biofortificação no Brasil. Esta rede foi
iniciada pelo projeto HarvestPlus, financiado pela fundação Bill & Melinda
Gates e pelo Banco Mundial, entre outros, e também inclui o projeto AgroSalud,
financiado pela Agência Canadense para o Desenvolvimento Internacional (CIDA),
ambos coordenados pela Embrapa Agroindústria de Alimentos.
Quatorze unidades da Embrapa fazem parte do
BioFort, que conta, ainda, com uma extensa rede de parcerias (universidades,
prefeituras, governos estaduais e associações de produtores). Ao todo, cerca de
200 pesquisadores, técnicos e parceiros estão envolvidos no projeto.
O BioFort em Pelotas
A Embrapa
Clima Temperado, em Pelotas/RS, iniciou ações de inserção neste projeto de
biofortificação e recebeu no dia 29 de maio de 2015, a coordenadora do
BioFort, a pesquisadora Marília Nutti, da Embrapa Agroindústria de Alimentos,
do Rio de Janeiro/RJ, que apresentou o Seminário sobre Biofortificação de
Alimentos no Brasil. Durante esse encontro houve a participação do co-líder do
projeto, pesquisador José Luiz Viana, que falou sobre os avanços na
biofortificação de alimentos e oportunidades na geração de novos produtos. Pela
Unidade de pesquisas de Pelotas, o analista de transferência de tecnologias
Apes Falcão Perera mostrou as ações do Projeto BioFort no RS.
¹Embrapa Clima Temperado