Cilotér Borges
Iribarrem¹
A segunda
geração é a chamada geração dos irmãos, que tem um emocional muito forte. Na
maioria das vezes, não são sócios voluntariamente, mas são sócios porque são
irmãos. Normalmente, as famílias querem saber como se resolve um problema
familiar, mas quase nunca querem saber as causas.
Algumas
famílias creem que a simples reorganização do trabalho na empresa resolverá, da
noite para o dia, todos os problemas entre os irmãos; mas esses conflitos não
se resolvem facilmente. É um erro tentar solucionar contendas entre irmãos
usando apenas ferramentas de gestão, pois, em geral, os atritos são por
questões emocionais.
Muitas vezes,
quando os irmãos se tornam sócios e a sociedade não tem regras, não tem
comunicação, os conflitos aumentam. Como consequência, usam a empresa como
campo de batalha, através da disputa do poder, distribuição de dividendos etc. É
necessário ajudar os irmãos em conflito a falar do que habitualmente não falam,
aceitar as diferenças e enfrentar abertamente os pontos de tensão, em vez de
ficar sabotando os esforços uns dos outros, além de obrigar os demais membros
da família e até empregados a se posicionarem na disputa.
Como na
segunda geração a emoção é mais forte que a razão, muitas vezes o pensamento
técnico pode não dar certo, pois não é um processo racional – e, assim não
sendo, ele não consegue dominar o processo afetivo. O conhecimento sempre pode
comprar, mas a confiança não tem preço. Muitas empresas terminam na segunda
geração porque a sociedade não se escolheu livremente. Como eram herdeiros,
passaram a ser sócios, algumas vezes por imposição dos pais. Estes fazem parte
da primeira geração e sempre decidiram tudo sozinhos, pois eram fundadores e
únicos donos da empresa.
É fundamental
que ocorra preparação para a segunda geração trabalhar em sociedade. Não se
pode deixar para resolver após a morte dos pais; este é o pior momento e, na
maioria das vezes, não dá certo. Quando tratamos de sucessão familiar em
empresas rurais, a situação é bem mais complexa, pois o maior valor do
patrimônio é a terra. Esse patrimônio é muito difícil de dividir entre os
herdeiros, devido a suas peculiaridades de estrutura de produção (tipo de solo,
infraestrutura, acessos etc.). A estrutura foi construída para ser trabalhada
como uma unidade única de produção, onde a propriedade e a direção pertenciam
somente ao casal.
Em geral, os
conflitos são inevitáveis, são parte natural de nossas vidas. Não raro, a demora
da implantação do processo de sucessão, por não se saber resolver os problemas
e por temor de piorar a situação, só aumenta os atritos, dificulta as relações
pessoais e torna a comunicação muito mais difícil, sendo esta uma condição
necessária para trabalhar em sociedade.
Para conhecer
melhor o que é uma empresa familiar, é preciso entender que as famílias têm
filhos e as sociedades têm sócios; portanto, nem tudo que é bom para a família
é bom para a empresa, enquanto o inverso é verdadeiro. O planejamento
sucessório é um processo de transferência ordenada do patrimônio de uma família
à próxima geração, identificando e formando as pessoas que dirigirão a empresa
familiar. Para que um processo de sucessão seja exitoso, tem-se de preparar, o
sucessor, o sucedido, a empresa e a família, pois sempre ocorrerão duas
sucessões, a patrimonial e a diretiva.
No caso das
empresas rurais, a preparação do processo de sucessão da primeira para a
segunda geração é fundamental, para que não se tenha de dividir patrimônio, mas
dividendos e benefícios.
Implantado a
governança e o processo de planejamento da sucessão, que normalmente leva de um
ano a dois anos para que se consolide, e garantindo que todos os participantes
da sociedade familiar fiquem conscientes de seus direitos e deveres, caminhamos
na direção de evitar o fracasso das empresas na segunda geração, pois 60% dos
rompimentos ocorrem por falta de regras, comunicação e confiança entre os
sócios; 25% são por inadequada preparação dos sucessores e herdeiros.
O fracasso das
empresas na segunda geração, devido a razões técnicas e conjunturais, só ocorre
em 15% dos casos. Com tais providências, são vencidos os desafios de transferir
a empresa da primeira geração para a segunda geração, sem prejuízo da harmonia
da família, mantendo o negócio saudável e competitivo, crescendo e gerando
resultados sólidos, projetando o patrimônio para as futuras gerações e
trabalhando os jovens, para terem compromisso com o legado familiar.
É assim que
devemos proceder no processo do planejamento da sucessão familiar e da
governança, da primeira para a segunda geração, pois, na sociedade de irmãos,
não pode haver a informalidade que havia na dos pais (fundadores e únicos donos
da empresa).
¹ Consultor da
empresa Safras & Cifras