Ignorância Transgênica
Há
um tempo atrás realizei um debate com uma turma de Curso Técnico em Meio Ambiente.
Cheguei na sala e distribui uma caixinha de “Chiclets” para cada aluno. Em
princípio observei alguns olhares de espanto e a indagação de qual era o
sentido desse presentinho misterioso. Ignorei os questionamentos e as
desconfianças e logo perguntei: Quem é contra os transgênicos? Muitas pessoas
levantaram a mão! Quem é a favor dos transgênicos? A outra parcela também
levantou a mão! Porque vocês são contra ou a favor? Após essa pergunta veio
alguns minutos de silêncio profundo, seguido de certos gaguejos daqueles que
aventuraram argumentar-se sem fundamentos sólidos para afirmar seu
posicionamento. Seguimos lendo alguns artigos e assistindo os documentários
sobre o assunto. O debate rendeu, foi produtivo e ao final da aula questionei:
Lembram do “Chiclets”? Peguem à caixinha dele e observem no seu rótulo, há um
triângulo amarelo com a letra “T” que sinaliza que esse produto contém amido de
milho transgênico. Quem diz ser contra, está mascando um chiclete composto por
amido de milho transgênico e nem sabia disso, essa foi a intenção de
distribuí-los para vocês no início da aula. Vocês são contra algo que sequer
conhecem ou sabem onde está presente?
Para se posicionar sobre determinado assunto, devemos
conhecer os conceitos básicos para não sair por aí repetindo “lorotas” que a
grande mídia quer colocar na cabeça das pessoas. A televisão não está
interessada em ensinar ou educar você ou seus filhos. Seus interesses são
meramente comerciais, sua programação e seu jornalismo está sempre voltado para
aquilo que lhe interessa comercialmente e não para educar a população que a
assiste. Por isso, a cada dia vejo menos TV. A internet é o melhor meio de
informar-se, pois, é um ambiente no qual é possível buscar aprendizado,
conhecimento científico e escutar os mais variados pontos de vista sobre um
único assunto, eliminar as tendências e tirar nossas próprias conclusões.
Portanto, não seja ignorante por opção, basta perguntar ao “Dr. Google” que ele
lhe dará infinitas informações sobre transgenia. Leia e pesquise sobre os prós
e contras dessa tecnologia e tire suas conclusões, será que os transgênicos são
os alimentos do mal como pregam alguns ambientalistas radicais?
Andando pelo supermercado podemos verificar o símbolo
que indica que determinado alimento tem ingredientes transgênicos em produtos
como óleo de soja, óleo de milho, ração para cachorro, ração para peixes,
mistura de bolo, biscoitos recheados, biscoitos de sal, fubá, suco à base de
soja, balas, chicletes, chocolates, entre outros. Essa identificação nos
rótulos dos produtos alimentícios passou a existir em 2003, com a publicação do
Decreto n. 4680, de 24 de abril, que em seu Artigo 2º deixa claro que “Na
comercialização de alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo
humano ou animal que contenham ou sejam produzidos a partir de organismos
geneticamente modificados, com presença acima do limite de um por cento do
produto, o consumidor deverá ser informado da natureza transgênica desse
produto. § 1º Tanto nos produtos
embalados como nos vendidos a granel ou in natura, o rótulo da embalagem ou do
recipiente em que estão contidos deverá constar, em destaque, no painel
principal e em conjunto com o símbolo a ser definido mediante ato do Ministério
da Justiça, uma das seguintes expressões, dependendo do caso: "(nome do
produto) transgênico", "contém (nome do ingrediente ou ingredientes)
transgênico(s)" ou "produto produzido a partir de (nome do produto)
transgênico".
No entanto, mais de dez anos se passaram após a
criação desse decreto e apesar da legislação ser cumprida, muita gente não sabe
da existência ou o significado desse símbolo na embalagem dos produtos
alimentícios. Certamente comemos alimentos transgênicos há décadas, por meio
dos salgadinhos americanos que circulam no Brasil muito antes da chegada das
sementes transgênicas aos nossos campos. A grande polêmica da vez em torno
desse assunto é que a Câmara dos Deputados desenterrou e aprovou o projeto de
lei n. 4148/2008, que dispensa o uso da simbologia que identifica alimentos
transgênicos nos rótulos. O projeto seguiu para o Senado por meio do Ofício n.
146/2015/PS-GSE em 30 de abril de 2015 e ainda não teve a apreciação desta
Casa. Agora as pressões populares surgem em prol da derrubada desse projeto,
enquanto os empresários apóiam a aprovação. Resta saber quem irá vencer essa
briga. O povo que só descobriu que existia essa identificação no rótulo agora,
quando ela está para ser retirada ou os empresários que sempre tentaram
esconde-la da melhor maneira possível em suas belas embalagens coloridas e
“ecologicamente corretas”.