CONCEITOS
BÁSICOS SOBRE TIPOS DE SEMENTES
A semente é o
princípio de tudo na agricultura. Não adianta termos um solo fértil e um clima
favorável se não pensarmos na qualidade da semente que será utilizada em nossa
horta orgânica. Quando você vai ao supermercado, naquele tradicional espaço de
jardinagem e horticultura, você pode encontrar diversos tipos de sementes. O
ideal é que você mesmo cultive e preserve as sementes que serão utilizadas para
o próximo plantio. No entanto, não é qualquer semente que terá qualidade para
ser plantada.
Certamente, você
já comprou sementes de melancia híbrida, moranga híbrida, alguma linhagem de
alface ou mesmo já ouviu falar no termo sementes crioulas. Mas, qual a
diferença entre essas sementes? Qual o significado desses termos? Se você já
teve a curiosidade de entender o significado desses termos, está no lugar
certo!
O objetivo desse
artigo será apresentar os conceitos básicos sobre os tipos de sementes, para
que você compreenda melhor a diferença entre os diversos termos que são
utilizados no mercado e pelos profissionais da área. Para melhor entendimento,
utilizaremos a cultura do milho (Zea Mays
L.) como exemplo, pois, é muito comum utilizar esses conceitos para classificar
as sementes dessa espécie.
Ø
Sementes
crioulas:
São também conhecidas como sementes variedades, sementes não hibridizadas ou
sementes da independência. Essas sementes são reproduzidas e preservadas pelos
povos tradicionais e agricultores familiares ao longo de décadas. Geralmente, é
uma semente que foi selecionada pelo próprio agricultor ao longo dos anos
adaptando-se as condições de clima, solo, luminosidade, competição com plantas
espontâneas e convivência com pragas e doenças locais. É uma semente mais
rústica e que demanda baixa tecnologia de produção quando comparadas as
sementes híbridas. Pelo fato de ser uma semente mais adaptada às condições
locais, há um mínimo de produtividade que as plantas originárias das sementes
crioulas terão em condições adversas. Por exemplo, um milho crioulo adaptado a
uma região mais árida terá uma perda de produtividade entre 20 e 40 %, caso
aconteça um veranico na época de enchimento de grãos. Enquanto que uma semente
híbrida, devido as suas exigências serem mais elevadas pode ter perdas entre 80
a 100 % da lavoura. As plantas oriundas de sementes crioulas têm
características comuns entre si, como empalhamento da espiga, época de
surgimento das partes reprodutivas (pendão e boneca da espiga), tamanho da
espiga, número de grãos, dureza e cor dos grãos, etc. É um material
geneticamente estável. Como a planta de milho tem fecundação cruzada, ou seja,
os grãos de pólen de uma planta polinizarão a espiga de outra planta pela ação
dos ventos e de animais como abelhas e vespas, é importante que lavouras de
milho crioulo sejam plantadas a uma distância mínima de 500 metros em relação a
outras lavouras de milho para evitar cruzamento com espécies que não são
consideradas crioulas e manter as características genéticas potenciais da
semente. Outra alternativa seria realizar o plantio de uma lavoura com sementes
crioulas cerca de 40 a 50 dias depois do plantio de lavouras comerciais que
estejam próximas a propriedade ou mesmo em relação a outros tipos de semente
crioula para evitar o cruzamento entre as plantas. Para manter uma semente
crioula, é importante que essas recomendações sejam seguidas. Os grãos colhidos
de plantas cultivadas com milho crioulo podem ser utilizados como semente em
uma nova safra. Por isso são chamadas de sementes da independência, pois, o
agricultor pode selecionar suas sementes e armazenar adequadamente para
utilizar. O agricultor preserva a própria semente, que é um bem tão precioso e
não fica dependente das grandes indústrias e seus pacotes tecnológicos. Existem
sementes crioulas de inúmeras hortaliças e são mais facilmente encontradas em
feiras orgânicas, agroecológicas e até mesmo em grupos de troca de sementes
existentes em redes sociais. As pessoas que se dedicam a reproduzir e preservar
essas espécies são conhecidas como “Guardiões da Biodiversidade” e muitas das
vezes criam bancos comunitários de sementes e projetos de trocas e
compartilhamento de espécies. Uma semente crioula pode ser melhorada e desde
que plantada conforme explicamos anteriormente, conservará sua pureza. A
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) mantem bancos de sementes
crioulas, inclusive com espécies melhoradas por meio de seleção genética.
Ø
Sementes
Linhagem:
Para entender os conceitos relacionados a sementes híbridas que serão apresentados
em seguida, é importante conhecer o significado do termo linhagem dentro da
produção vegetal. A semente linhagem é uma matriz pura selecionada pelo
pesquisador em melhoramento genético para obter sempre o mesmo híbrido. Para
conseguir a semente linhagem, o pesquisador realiza uma autofecundação da
planta. No caso do milho, isso significa que o pólen retirado de uma planta
será usado para fecundar a boneca da espiga dessa mesma planta. Nesse caso, não
se deve permitir a fecundação cruzada entre plantas. A espiga colhida dessa
planta é utilizada como semente e realiza-se o mesmo procedimento por cerca de
cinco a seis gerações até que se obtenha a semente que damos o nome de
linhagem. Normalmente, as linhagens são pouco produtivas e pouco vigorosas,
pelo fato de serem obtidas por meio de autofecundação. No entanto, apresentam
uma elevada pureza genética, facilitando a escolha de características herdáveis
desejáveis para criação de um híbrido. Essas linhagens puras são preservadas
pelas empresas especializadas em produção de sementes híbridas e não são
diretamente comercializadas.
Ø
Semente de Híbrido Simples: Para facilitar
o entendimento, observe o esquema na figura ao lado. Damos o nome de híbrido
simples ao cruzamento entre duas linhagens puras. Na parte de cima, temos uma linhagem
A (usada apenas como pai - polinizador) cruzando com uma linhagem B (Usada
apenas como mãe – corta-se o pendão e preserva a boneca da espiga que é o órgão
reprodutor feminino). Esse cruzamento dará origem à semente híbrida AB, que
será colhida da planta-mãe. A semente híbrida AB tem genes misturados da
linhagem A e B. Portanto, o grão produzido a partir do híbrido AB não serve
como semente para uma nova safra, pois, perde sua qualidade genética devido ao
fenômeno conhecido como perda do vigor híbrido. O vigor híbrido é o fenômeno
responsável pela maior produtividade e por apresentar características genéticas
de interesse (como resistência a doença) superiores a média dos pais. Graças ao
vigor híbrido, todas as plantas originadas de sementes híbridas são homogêneas
(Tem características médias iguais como altura, tamanho de espiga, tipo de
folhas, etc) e são heterozigotas, que significa que não são geneticamente
estáveis para serem reproduzidas novamente. Se você plantar os grãos de um
milho híbrido colhido no ano anterior, terá uma perda de produtividade entre 20
e 50 % em condições ótimas de tecnologia. Nesse contexto, a semente híbrida
deve ser comprada anualmente pelo agricultor em empresas especializadas. A
produtividade será elevada se todos os índices tecnológicos exigidos para o
híbrido forem atendidos, em contrapartida, um híbrido submetido a baixa
tecnologia de produção poderá ser menos produtivo do que uma semente crioula
adaptada as condições da sua região. Na segunda parte da figura, podemos
observar outro processo de obtenção de um híbrido simples CD por meio do
cruzamento entre duas linhagens puras (C e D, respectivamente). Digamos, por
exemplo, que a linhagem A é resistente a ferrugem e tem menor espiga, com grãos
claros. Ao cruzar com a linhagem B que tem espiga com grãos mais escuros e
planta de estatura média, porém, não tão resistente a ferrugem, teremos um
híbrido AB que será resistente a ferrugem, de estatura média, com espiga maior
e grãos escuros que foram as características herdáveis dominantes. Portanto, a
primeira geração desse híbrido dará plantas com essas características de
maneira similar. Já os grãos produzidos pela primeira safra do híbrido AB se
utilizados como sementes darão origem a plantas com diversa variação genética
(porte baixo ou alto com grão escuro, porte baixo ou alto com grão claro, porte
baixo ou alto resistente a ferrugem, não resistente a ferrugem, espigas de
tamanhos variáveis, maturação desuniforme, etc.). Entendeu porque não vale a
pena plantar os grãos que são obtidos de uma semente híbrida? Os híbridos
simples têm um potencial de produtividade mais alto, plantas e espigas mais
uniformes quando comparado aos demais tipos de híbridos que veremos a seguir. Consequentemente
tem elevado preço no mercado!
Ø
Semente de Híbrido Duplo: Observe no
primeiro esquema da figura ao lado. Chamamos de híbrido duplo, a semente que
veio do cruzamento entre dois híbridos simples. Como podemos observar ao lado,
o milho híbrido simples AB cruzado com o híbrido simples CD dará origem ao
milho híbrido duplo ABCD. Da mesma forma como explicamos anteriormente, os
grãos que forem produzidos pelo híbrido duplo não poderá ser utilizado como
semente, pois, a variabilidade entre as plantas será ainda maior do que aquelas
originadas de um híbrido simples. Geralmente, esse tipo de híbrido é o mais
barato no mercado, pois, as características das plantas obtidas em sua primeira
safra são um pouco mais variáveis, bem como no tamanho de plantas e espigas
quando comparado com os milhos híbridos simples e triplos.
Ø
Semente de
Híbrido Triplo:
Observando o segundo esquema apresentado na figura anterior, vemos o cruzamento
entre o híbrido simples CD e uma linhagem pura E. Esse tipo de cruzamento
origina uma semente que damos o nome de híbrido triplo (CDE), pois, envolve a
mistura genética de três linhagens puras (duas que deram origem ao híbrido
simples CD e uma terceira linhagem E). A linhagem é utilizada como planta macho
no processo de cruzamento, eliminando o pendão das plantas do híbrido simples.
As sementes de híbrido triplo geram plantas bastante uniformes e apresentam um
potencial produtivo intermediário entre o híbrido simples e o duplo. Da mesma
forma, os grãos produzidos não devem ser aproveitados como sementes.
Ø
Semente de
Híbrido Intervarietal: Nesse caso, realiza-se o cruzamento entre duas plantas
variedades ou crioulas. Origina-se por meio desse cruzamento uma semente mais
produtiva em relação aos seus pais e como qualquer híbrido, não deve ter
sementes “salvas”. É um tipo de hibridismo que o produtor pode realizar em sua
propriedade com as sementes crioulas que
armazena para plantio. No entanto, é importante ter sempre as sementes
crioulas que originaram o híbrido intervarietal para não perder a genética.
Ø
Semente Top
Cross:
É um tipo de híbrido que origina por meio do cruzamento entre uma linhagem e
uma variedade.
Agora que você
já aprendeu os conceitos básicos relacionados aos tipos de sementes que
encontramos no mercado, tenha bastante atenção no momento de escolher sua
semente. Dê preferência para sementes crioulas ou para sementes comerciais que
não sejam híbridas, pois, assim você não fica refém da indústria e pode
reservar algumas plantas da sua horta orgânica para colher as sementes que
utilizará na próxima safra. Procure frequentar feiras orgânicas, agroecológicas
e realizar intercâmbio com seus amigos para trocar conhecimentos e quem sabe
também algumas sementes!