Os carás ou
inhames (Figuras 1 e 2) pertencem à família Dioscoreaceae,
que possui diversos representantes no mundo todo. Constituem na atualidade,
oito gêneros distribuídos em cerca de 850 espécies. Aproximadamente 95% pertem
ao gênero Dioscorea (Marbberley, 2008),
sendo fonte de grande diversidade biológica dos ecossistemas. Contudo, ainda há
controvérsias sobre sua origem e distribuição.
Algumas das
principais espécies conhecidas e distribuídas são Dioscorea alata L., D.
bulbifera L. e D. trifida L.f. originária
da Índia Central, região Indo-Malaia e centro de origem na América Central e
Sul, respectivamente (Burkill, 1967; Carvalho, Teixeira & Borges 2009).
Kirizawa et al. (2015) estimaram que ocorrem dois gêneros da família presente
em todas as regiões do Brasil e 139 espécies de Dioscorea, sendo 109 endêmicos, ou seja, que só ocorrem no país.
Ferreira et
al. (2010) encontraram tubérculos de duas espécies: Dioscorea alata e D. trifida
sendo cultivadas por agricultores da região da baixada cuiabana-MT, com seus
respectivos nomes populares, como: cará roxo, cará manchado, cará lavanca,
cará, cará cipó, cará canga ou cará cenoura, cará branco, cará pele roxa, cará
mandioca e cará inhame. No Brasil, existe uma diversidade muito grande de nomes
populares ou nomes vulgares para essas plantas de acordo com a região. Muitas
vezes se confundem como é o caso do cará, o inhame e o taro. No entanto, durante
o Primeiro Simpósio Nacional sobre as Culturas do Inhame e do Cará, realizado
em Venda Nova do Imigrante – ES, em 2001, a nomenclatura foi padronizada. O Inhame
japonês ou simplesmente inhame, como era conhecido em algumas regiões (Colocasia esculenta (L.) Schott) receberam
a denominação uniforme de taro e todas as espécies conhecidas como inhames e carás,
do gênero Dioscorea e família
Dioscoreaceae, receberam a denominação padronizada de inhame.
O inhame (Dioscorea sp.) é uma monocotiledônea,
herbácea e trepadeira, sendo descrito por Santos (2002) como tendo raiz
tuberosa, alongada, de cor castanha-clara; caule volúvel, cilíndrico, tênue,
com cerca de 3 mm de diâmetro, sem pelos, esparsamente aculeado; folhas opostas
e raramente alternadas, lâmina ovalada a sub-oblonga, com sete a nove nervuras
principais, base mais ou menos cordiforme com cerca de 7 cm de comprimento e
4,5 cm de largura; flores dióicas, dispostas em espigas masculinas solitárias,
simples ou compostas. Apresenta túberas cilíndricas e de tamanho variável, normalmente
de 1 a 10 kg.
Essas
plantas são uma riqueza pouco conhecida e explorada pela população em geral, constitui
em uma importante fonte alimentar, nutricional, terapêutica (principalmente,
por possuírem diversas substâncias e nutrientes favoráveis à saúde), fonte de
renda e participa da riqueza cultural de diversos povos, sobretudo os povos
tradicionais, como os assentados, indígenas, ribeirinhos, quilombolas e
agricultores familiares.
Brito et
al. (2011) revelaram que o inhame (Dioscorea
sp.) possui um teor apreciável de nutrientes, constituindo-se em importante
fonte alimentar, sendo: 65,62% de umidade, 0,96% de materiais minerais, 0,05%
de acidez titulável, pH 6,23, 8,75° Brix ou sólidos solúveis, 3,06% de
proteínas totais, 0,86% de lipídeos totais, 29,5% de carboidratos totais, 29,5%
de amido e valor energético de 137,98 calorias. Todavia, Paula et al. (2012)
estudaram as variedades de inhame da espécie D. alata Caramujo, Flórida, Mimoso, Pezão, Roxo e São Tomé. Os
autores observaram grandes diferenças quanto à composição centesimal, sendo que
a variedade Florida se destacou das demais por apresentar teores mais elevados
de cinzas (3,08%), proteína (6,35%), fibra (2,69%) e menor teor de carboidratos
totais.
A cultura do
inhame branco ou roxo (Dioscorea sp.)
apresenta múltiplos usos na culinária regional na sua forma natural (fresco ou in natura) e processada na forma cozida
ou na forma de ensopados, devido a alta digestibilidade do amido (Leonel et al,
2005), bolos, doces, ou ainda, na forma de broas (Figura 3). A família
Dioscoreaceae favorece a diversidade biológica dos ecossistemas, é fonte de
alimentos e de componentes com ações nutricionais e medicinais. Além de ser uma
alternativa geradora de renda e divisas comerciais para as populações,
especialmente, as populações tradicionais das regiões do Brasil.
LITERATURA CITADA
BRITO, T. T. et al. Composição
centesimal de inhame (Dioscorea sp.)
in natura e minimamente processado. Scientia
Plena, São Cristóvão, v. 7, n. 6, jun. 2011. Disponível em:
<http://www.scientiaplena.org.br/ojs/index.php/sp/article/viewFile/183/162>.
Acesso em: 9 out. 2015.
BURKILL, I. H. Yams. An account of the nature, Origins, Cultivations and Utilisation
of the Useful Members of the Dioscoreaceae. Longmans: London, 1967.
229 p.
Carvalho, P. C. L.; Teixeira, C. A. & Borges, A. J. Diversidade
genética em Dioscorea spp. no Recôncavo
da Bahia. Revista Brasileira de Agroecologia,
v. 4, n.2, p. 515-519. 2009.
FERREIRA, A. B. et al. Dioscoreáceas
cultivadas por agricultores da baixada cuiabana em Mato Grosso - – Brasil. Revista Raízes e Amidos Tropicais, v.
6, p. 201-208, 2010.
Leonel, M., Oliveira, M. e Duarte Filho, J. Espécies tuberosas
tropicais como matérias-primas. Revista
Raízes e Amidos Tropicais, v. 1, p.49-68. 2005.
Kirizawa, M.; Xifreda, C. C.; Couto, R.; Araújo, D.
Dioscoreaceae in: Lista de Espécies da
Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB104>. Acesso em: 09 Out. 2015.
MABBERLEY, D. J. Mabberley’s Plant-book - A Portable Dictionary of Plants, their
Classifications, and Uses. 3 ed. May, Cambridge
University Press. 2008.
PAULA, C. D. et al. Características
físico-químicas e morfológicas de rizósforos de inhame (Dioscorea alata). Biotecnología
en el Sector Agropecuario y Agroindustrial, v. 10, n. 2, p. 61 – 70, 2012.
SANTOS, E. S. dos. Cultura do inhame (Dioscorea sp.). João Pessoa: EMEPA-PB, SEBRAE, 2002. 13 p.
¹Professor da UNEMAT, Doutor
em Agronomia, com concentração na área de Horticultura, e-mail: diasagro2@gmail.com